sábado, 31 de dezembro de 2011

Jornalismo de Primeira.

Morre Daniel Piza ao 41 anos. Como homenagem, reproduzo últimos artigos publicados no blog do jornalista: Sobre o Natal e sobre as mortes em 2011.

Estadão.com


De presentes e ausências

25.dezembro.2011

Nesta época é comum ver, além das retrospectivas, os apelos piegas ao tal espírito natalino, abusos de expressões como “renovar esperanças”, previsões furadas de astrólogos, tarólogos e outros loucos, textos que lamentam onde estão os natais d’antanho, mensagens de boas festas com listas de virtudes. Meu impulso é perguntar por que as pessoas não procuram ser assim o ano todo, e não apenas no solstício que foi apropriado pela religião e pelo folclore para se tornar uma data paradoxal em que se discursa sobre bons sentimentos enquanto se consome em ritmo febril; até mesmo os nacionalistas se calam diante do fato de que a festa não tem cara do calor de 34 graus. E então me ponho a pensar em como generosidade e respeito, para ficar só nesses dois itens, andam em falta nos tempos atuais, especialmente nas grandes cidades, e em como a tecnologia que deveria nos aproximar nos tem dispersado. Mas lembro os Natais de infância, comparo com o dos meus filhos e as diferenças se tornam irrelevantes, porque os prazeres e as questões são muito parecidos. E os dias deliciosamente desocupados, desacelerados, convidam ao balanço do ano, ainda que tenha tido tantas tristezas em meu caso, e sem balanço não há avanço.
Somos carne e pensamento, um não se dissocia do outro, e do mesmo modo o Natal é ficar feliz em dar e receber presentes, é ver as crianças alegres com o que ganham e pronto, sem místicas nem melancolias. Lembro que meu avô nos levava em seu Opala, no banco da frente, câmbio atrás do volante, para procurar o Papai Noel. Olhávamos para o céu e achávamos que qualquer luzinha era a carruagem de renas. Quando voltávamos, ele já tinha passado e deixado os presentes sob a árvore. Um primo mais velho me disse: “Cheguei até a ver a perna dele saindo pela janela”. Eu devia ter uns oito anos e achei estranho; afinal, era só ter ficado ali que com certeza o veríamos, já que eu nunca tinha conhecido ninguém que não ganhasse presentes todo santo Natal. (Eu já estava acometido desta mania de descrença: antes de fazer 6 anos, na minha primeira viagem de avião, assim que ficamos acima das nuvens perguntei ao meu pai onde estavam os “anjinhos”. Não era ali que diziam que eles moravam?) De qualquer modo, afora as comidas saborosamente calóricas, quase sempre o presente fazia a dita magia da noite. Digo “quase sempre” porque uma vez pedi um Piloto Campeão e ganhei uma Motocleta. Inconformado, reclamei: “Que Papai Noel burro!” Mas a Motocleta, espécie de triciclo evoluído, me divertiu muito mais ao descer a rampa do abacateiro na chácara que tínhamos.
Ver o sorriso de filhos e sobrinhos é boa maneira de encerrar o ano, como o fecho de capítulo de um livro que ainda não terminou, e mesmo que não chegue a redimir o capítulo ruim. Perdi minha mãe e, apesar das falas pseudo consoladoras do tipo “É a vida” (não, é a morte mesmo) e “Tudo vai ficar bem” (defina “bem”), a dor ganha intervalos, mas a ausência fica. Tive também uma decepção pessoal, que abalou minha confiança, me tirou alguns quilos, me fez ver de novo como nossos melhores esforços podem ser os mais injustiçados, como a ingenuidade é amiga da vaidade, como a efusão brasileira pode ocultar inveja ou egoísmo. Também não fico feliz ao pensar que para tantas pessoas uma experiência insubstituível como ter filhos pode ser vista como algo que “atrapalha” ou, pior, que justifica manter relacionamentos frios ou frustrantes, em vez de renová-los. Mas terminei meu capítulo com páginas encorajadoras, confiante não apenas em ter superado a fase crítica, mas também em não ter deixado o desencantamento tomar conta. Aí está, se me permitem o toque natalino: não deixar o desencanto tomar conta é o melhor presente.

26/12/2011


O final de ano veio marcado por mortes de pessoas marcantes. O ator Sérgio Britto, remanescente dos tempos em que o teatro brasileiro ditava rumos culturais como jamais depois; o carnavalesco Joãosinho Trinta, de uma ousadia que deveria ser o padrão da festa, mas quase sempre foi a exceção; a cantora cabo-verdiana Cesaria Évora, inesquecível com sua voz docemente triste e seus dançantes pés descalços. E o polemista inglês Christopher Hitchens, infelizmente lembrado mais por sua confusa adesão ao neoconservadorismo de Bush II do que por sua corajosa crítica cultural na velha e boa linhagem libertária, ou dissidente, dos britânicos; como já notei, ele caiu em óbvia contradição com seu ataque às religiões, se bem que nestes também foi confuso, como ao desprezar a cultura visual do cristianismo (que legou, entre outras conquistas, o Renascimento).

Pauta importante, matéria incompleta. É mais fácil o alarde e o lugar comum da acusação do que a investigação criteriosa e consistente.

Matéria do Estadão sobre as emendas parlamentares poderia explicar como funciona e quais são os problemas, mas prefere o caminho mais fácil: a sugestão de que é o preço pela aprovação do Orçamento. A verdadeira questão é saber a legitimidade, pois a legalidade é assegurada no ordenamento jurídico, de cada uma delas. Mais isto dá trabalho e é preciso encher as páginas dos sites com títulos “atraentes”.

Estadão.com
31/12/2011
Christiane Samarco

Governo deu ‘bônus’ deR$ 300 milhões a parlamentares para aprovar Orçamento


BRASÍLIA - Para aprovar o Orçamento de 2012 às 23h50 da antevéspera do Natal, o governo pôs na mesa de negociação mais de R$ 300 milhões, destinados a atender às demandas das bases eleitorais dos 82 deputados e senadores que compõem a Comissão Mista de Orçamento (CMO). Cada um dos titulares e suplentes da comissão custou individualmente ao governo o compromisso de liberação imediata de R$ 3 milhões em emendas parlamentares.
Mas o "preço por cabeça" na operação política que brecou os reajustes salariais dos servidores públicos e o pretendido aumento real das aposentadorias acima do salário mínimo acabou ficando mais alto, por conta da oposição. Preocupado com as eleições municipais do ano que vem e com o baixo poder de fogo da bancada oposicionista diante da maioria governista, o DEM aproveitou a oportunidade e exigiu que a cota de R$ 3 milhões fosse estendida a cada um de seus 27 deputados, e não apenas aos seis que são da comissão.
"O que o nosso pessoal fez foi negociar a liberação de um limite mínimo de recursos ao partido, e o governo cumpriu o compromisso", conta o presidente nacional do DEM e senador José Agripino (RN). Apesar de a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, ter saído de férias depois de comandar os acertos na Comissão de Orçamento, Agripino atesta que o governo está empenhando os R$ 3 milhões em emendas individuais da oposição e diz que isto não é favor nenhum. "A base pediu muito mais."
Na primeira quinzena de dezembro, a presidente Dilma já havia aberto o cofre e empenhado R$ 1,596 bilhão das emendas de deputados e senadores apresentadas ao Orçamento de 2011 para votar a Desvinculação de Receitas da União (DRU), mecanismo que garante ao governo a possibilidade de movimentar livremente 20% das verbas públicas. O bônus prometido e liberado aos integrantes da Comissão do Orçamento foram somados a essa liberação.
Impacto. Um integrante do primeiro escalão diz que o Planalto ainda não contabilizou o custo da aprovação do Orçamento do ano que vem, mas destaca que os acordos e promessas envolvem cifras elevadas, especialmente em se tratando dos aliados.
O corte de R$ 50 bilhões do Orçamento de 2011, promovido pela presidente Dilma Rousseff diante das ameaças da crise fiscal na Europa, gerou um passivo político com a base aliada. A escassez de recursos para bancar as emendas dos parlamentares acirrou os ânimos no Congresso e na Comissão do Orçamento.
Na reta final da votação da proposta orçamentária, o deputado Danilo Forte (PMDB-CE), por exemplo, "levou no grito" a inclusão na peça orçamentária de R$ 53 milhões em obras de infraestrutura urbana da área metropolitana da capital cearense. O peemedebista confirma que brigou para levar dinheiro ao Ceará.
E isto, sem falar na cota individual de R$ 3 milhões que, segundo ele, estão sendo empenhados para obras de pavimentação, urbanização e saneamento no interior cearense, onde ele foi o deputado mais votado.
"Minha briga não foi paroquial. Briguei pelos interesses do Estado, que está muito mal em malha viária", diz o deputado. Forte se justifica, lembrando que, à última hora, o relator Arlindo Chinaglia (PT-SP) "pôs mais R$ 170 milhões para o Rodoanel de São Paulo no Orçamento de 2012".
Da mesma forma que o presidente do DEM, o deputado do PMDB também afirma que o governo foi "muito correto" com ele, apressando liberações e empenhando recursos para bancar as obras no Ceará, em troca do voto para aprovar o Orçamento sem os aumentos que oneravam o Tesouro. Mas dezenas de deputados governistas ainda circularam em Brasília nesta semana entre o Natal e o Ano Novo, queixando-se do não cumprimento dos acordos e procurando ajuda federal para prefeitos aliados.
Invisível. Mapear os atendimentos feitos é tarefa quase impossível até para os líderes partidários que têm acesso ao Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi) e fazem o acompanhamento dos pleitos das bancadas. O mecanismo mais utilizado para apressar a liberação dos R$ 3 milhões de cada parlamentar, distribuindo-os entre prefeituras que ajudaram a elegê-lo, fica invisível aos olhos do Siafi. No geral, os ministros empenham o dinheiro diretamente nos convênios vigentes com as prefeituras.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Jornal continua chamando de suspeito jovem absolvido de crime que não cometeu.

Em 2009 a imprensa deu ampla divulgação a existência de rede de pedofilia em município do interior de São Paulo. Não aconteceu o mesmo com a notícia da absolvição. Tente achar algo sobre o assunto no google.

Agora São Paulo
30/12/2011
Léo Arcoverde

 

Justiça absolve suspeito de pedofilia


CATANDUVA - A Justiça paulista absolveu William Melo de Souza, 21 anos, de uma pena de sete anos de prisão sob a acusação de envolvimento dele em uma rede de pedofilia descoberta pela Polícia Civil em Catanduva (385 km de SP), em 2009. O caso teve repercussão nacional e foi alvo da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Pedofilia, do Senado Federal.
A decisão, da última terça-feira, é da 16ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça paulista. Os desembargadores acataram recurso da defesa de Souza. O Ministério Público concordou com a decisão. Foi decidida também a redução de 11 para 9 anos da pena imposta ao tio de William, José Barra Nova de Melo, o Zé da Pipa.
Souza está preso desde março de 2009 e continuará detido na penitenciária de Iaras (285 km de SP) porque possui outra condenação, de 11 anos.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Tempo da desimportância

O tempo dedicado para a cobertura do “caso Adriano” é no mínimo desproporcional. Entrada ao vivo no Jornal Nacional de hoje para mostrar reflete o equívoco desta escolha

Jornal Nacional
28/12/2011

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Veja e a opção recorrente pela má-fé.

Título da matéria da Veja sobre as compras feitas pela Marinha para a casa onde a Presidente Dilma passará férias não é zelo pela coisa pública, é maledicência.

Veja
27/12/2011

O custo da pisadela no mar de Dilma: R$ 657,9 mil

Após o tsunami de denúncias de corrupção em seu governo, a presidente Dilma Rousseff teve no início dessa semana um momento de refresco. Ergueu o vestido e molhou os pés nas águas calmas da Praia de Inema, na Base Naval de Aratu, na Bahia. De férias, a presidente só volta ao trabalho em 10 de janeiro. Levou consigo quase que uma comitiva: a filha, Paula, o neto, Gabriel, o genro, Rafael Covolo, a mãe, Dilma Jane, o ex-marido, Carlos Araújo, a atual esposa dele e uma tia.

Antes de receber a presidente, a Marinha caprichou nos preparativos e gastou nada menos que 657 900 reais com móveis, eletroeletrônicos e obras de reforma da residência funcional da Boca do Rio, onde se hospedam as autoridades em visita à base. O valor foi desembolsado entre os dias 21 de novembro e 10 de dezembro, em cinco pagamentos, de acordo com levantamento divulgado nesta terça-feira pela ONG Contas Abertas.

Com móveis, tapetes, cortinas e eletroeletrônicos foram gastos 425 200 reais. As notas de empenho emitidas pela Marinha informam detalhes sobre o valor de todos os itens, exceto os tapetes. Entre as compras estão, por exemplo, um frigobar com capacidade de armazenagem de 76 litros no valor de 4 900 reais, um espelho tamanho 2,5 x 2,5 metros ao custo de 6 000 reais e duas poltronas no valor total de 6 700 reais.

Foram compradas ainda oito televisões, sete aparelhos de DVD, um home theater e um computador, no valor total de 19 500 reais. Em outro empenho, a Marinha gastou só com cortinas nada menos que 37 300 reais. As obras de reforma custaram 195 400 reais.

A Marinha informou que os gastos estavam previstos desde 2010, quando começou a reforma, e que não foram feitos exclusivamente para receber Dilma. A presidente, por sua vez, tem se mostrado uma visitante discreta da Praia da Inema. Ao menos mais discreta que o seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. Na passagem de ano de 2009 para 2010 Lula foi com a família para a Base Naval e desfilou pela areia de sunga e equilibrando um isopor na cabeça.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

A imprensa e o tiro no carro de Adriano

É interessante comparar as matérias jornalísticas sobre o tiro no carro do jogador Adriano. Ao contrário do Globo.com, do Estadão e do UOL, a Veja expõe as contradições na versão do jogador. 

Veja
26/12/2011
Cecília Ritto



Adriano diz que não conhecia mulher que levoutiro em seu carro

O jogador Adriano acrescentou vários detalhes à sua versão da confusão em que se envolveu no sábado, quando uma mulher foi baleada em seu carro. Ao chegar à 16ª DP (Barra da Tijuca) para seu segundo depoimento, ele disse aos jornalistas que só conhecia duas das quatro mulheres que estava levando para casa depois de uma noitada em uma boate da Barra. Segundo o jogador, ele é amigo de Andreia Ximenes e Daniele Pena, mas nunca tinha visto Adriene Cyrillo Pinto nem Viviane Fraga. As duas estariam em seu BMW a pedido de um amigo que as conheceu naquela noite.
A história continua cheia de lacunas e contradições. O amigo, de nome não revelado, estaria em um outro carro, sozinho, enquanto as quatro moças se espremiam no banco de trás do carro de Adriano. Fazendo-se de vítima, o jogador disse que Júlio Cesar Barros, o policial militar reformado que dirigia o carro é seu amigo, não seu segurança. E reafirmou que não pegou na arma. Segundo ele, Adriene foi movida pela curiosidade ao pegar a pistola de Barros, que estava entre o banco do motorista e o console. “Os exames vão demonstrar quem está falando a verdade”, disse, acrescentando que não vai pagar as despesas de Adriane, que passará por uma cirurgia nesta terça-feira, porque “ela não tem caráter para falar a verdade”. Depois, reclamou: “Quando acontece com o Adriano, tudo tem muita repercussão”.
O delegado Fernando Reis, da 16ª DP, confirmou para quarta-feira a acareação entre Adriano e Adriene. E disse que considera mais plausível que Adriano estivesse realmente no banco da frente, como afirma o jogador. Mais cedo, o delegado disse que o resultado preliminar da perícia indica que o tiro foi disparado no banco de trás. Segundo Reis, quem estiver mentindo nessa história será punido. Adriene, por denunciação caluniosa, crime com pena prevista de dois a oito anos. Adriano, por lesão corporal (três meses a um ano de prisão) e fraude processual (seis meses a seis anos). Nesse caso, o PM que dirigia o carro e as outras moças, responderão por falso testemunho. “Estamos apenas no início das investigações”, disse Reis.
Sobre seu contrato com o Corinthians, Adriano disse estar tranquilo. "O Corintians me garantiu que continuo", afirmou. O jogador disse que vai se apresentar no dia 4 de janeiro.

UOL.Com
26/12/2011
Luiz Maurício Monteiro

Adriano confirma sua versão eafirma: "Não é justo o que ela está fazendo comigo"


O jogador Adriano foi, nesta segunda-feira, à 16ª DP do Rio de Janeiro, onde conversou com as autoridades policiais que investigam o disparo acidental de uma pistola ocorrido no interior do carro do atleta na madrugada do dia 24. A estudante Adriene Pinto, que estava no carro com Adriano e mais quatro pessoas, teve o dedo indicador esquerdo atingido pelo projétil e está internada no Hospital Barra D´Or, onde passará por cirurgia na terça-feira.
Antes do encontro com os policiais, Adriano conversou com os jornalistas. Ele reafirmou a sua versão sobre o ocorrido, de que a própria Adriene teria disparado acidentalmente a arma, que pertence ao segurança do jogador, também presente no automóvel durante o episódio. Já a vítima do disparo afirma que teria sido o corintiano quem atirou.
O atleta disse que estava disposto a pagar as despesas hospitalares de Adriene, mas que mudou de ideia, pois a jovem de 20 anos estaria tentando prejudica-lo: “Eu ia pagar (despesas do hospital), mas como ela está fazendo essas acusações, não vejo necessidade. Não é justo o que ela está fazendo comigo. Então, não tem por que ajudar. Apesar de tudo, espero que ela se recupere bem”, afirmou Adriano, que foi convencido pelo delegado responsável pelo caso a conceder uma entrevista coletiva.
O jogador também relatou como os fatos aconteceram, de acordo com a sua versão. “A arma estava no veículo. Ela, de curiosa, pegou e disparou. A arma estava entre o banco do motorista e o console. Eu ouvi o disparo e abaixei. Todos se assustaram. Com certeza ela pegou a arma, porque não dispararia sozinha. A princípio, eu nem tinha visto o dedo dela machucado. Só depois vi. Foi aí que eu tirei a camisa e dei para ela enrolar na mão”.
Adriano disse que conheceu Adriene na noite em que o incidente aconteceu, na casa noturna onde estava. “Eu não a conhecia. Eu estava saindo da boate, e um amigo pediu para eu levá-la porque o carro dele já estava cheio. Não caberia mais de seis pessoas. Ele a conheceu na boate e chamou para o nosso camarote. Mas eu nunca tinha visto ela”, afirmou.
Sobre o reflexo que o caso poderá ter em sua carreira, o jogador disse estar tranquilo. “Conversei com presidente (do Corinthians, Roberto de Andrade). Não existe nada em relação a quebra de contrato. Quando as coisas acontecem comigo ganham uma proporção maior. Eu estava evitando sair, mas as vezes é difícil, estava de férias”, admitiu.
Também nesta segunda, o delegado Fernando Reis, que investiga o caso, disse que ainda não é possivel afirmar quem foi o autor do disparo. "Estamos muito no início da investigação. Ontem e hoje (dias 25 e 26/12) tentamos levantar o maior números de dados possível, mas ainda é cedo para chegar à alguma conclusão".
No domingo, o delegado disse que pretende colocar frente a frente Adriene e o jogador, para que os dois contem suas versões sobre o ocorrido". A acareação só poderá ocorrer, no entanto, após a cirurgia de Adriene, agendada para terça-feira.
Segundo informaram ao UOL Esporte funcionários do Barra D´Or, a vítima chegara ao hospital dizendo que não sabia quem havia disparado a arma. Posteriormente, porém, a estudante teria alterado sua versão, afirmando a policiais que Adriano atirara acidentalmente com a pistola.

Globo.com
26/12/2011
Fred Gomes

Adrianochega sorrindo na delegacia e diz que sua inocência será provada


O atacante Adriano, do Corinthians, chegou à 16ª DP, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, no fim da tarde desta segunda-feira para prestar depoimento. O jogador chegou sorrindo e conversou com a imprensa em uma sala apertada. Ele confirmou sua versão de que não foi o autor do disparo e que os exames para detectar a presença de pólvora na mão irão confirmar que ele está dizendo a verdade.
- A arma estava entre os bancos. Ela pegou e disparou acidentalmente. Depois do barulho, nos abaixamos. No momento, ela não sentiu nada. Mas com certeza pegou a arma. Os exames vão sair e será comprovado que não estou mentindo. Cabe a vocês acreditarem ou não. Quando as coisas acontecem com o Adriano, a repercussão é sempre maior.

Adriano contou que no sábado foi a primeira vez que viu Adriene Cyrillo Pinto, apresentada a ele por um amigo que estava na casa noturna. O jogador afirmou que não vai mais pagar pelo tratamento da jovem, ao contrário do que disse anteriormente.

- Conheci ela a partir de um amigo que estava na boate. Foi a primeira vez que a vi. O que ela está fazendo não é justo, não tem caráter. Eu ia ajudar, visitar e pagar o tratamento, mas não farei mais. Não tem cabimento fazer isso para uma pessoa que está fazendo isso comigo. Tirei até a minha camisa para ajudá-la. Sou uma pessoa pública, fiquei preocupado com ela e com minha imagem. Mas não vou tentar prejudicar ela, espero que se recupere.
O jogador comentou também sobre o Corinthians. Ele disse que o clube está dando apoio.
- Não falaram nada em rescindir o meu contrato. O Corinthians sempre me deu apoio

Depois de dar entrevista, Adriano seguiu para seu depoimento. O delegado Fernando Reis contou que Adriene está envolvida em outros processos - como vítima - e alertou sobre a pena no caso de ela estar mentindo.

- Ela diz que o Adriano passou a arma para ela, e ele diz que ela pegou. Se for provado que é mentira dela, configura-se denúncia caluniosa, o que é sério. Então ela pense duas vezes, porque a pena é de dois a oito anos de prisão - avisou.

A acareação entre o jogador e Adriene será feita provavelmente na quarta-feira, mas ainda há a dependência de a jovem ter alta médica.
A versão do Imperador sobre o ocorrido foi confirmada por outras três testemunhas. A perícia já concluiu que o tiro foi dado do banco traseiro. A arma pertence ao PM reformado Júlio César Barros, amigo de Adriano, que dirigia o veículo. Segundo Fernando Reis, Júlio César foi negligente e terá de responder por isso. Outros amigos do Imperador contaram ao GLOBOESPORTE.COM que o atleta se preocupou em não ocultar provas.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Noite Feliz. Um Brasil mais justo passa por um judiciário transparente

Juízes federais condenam a nota da Associação dos Juízes Federais (AJUFE).

Folha com.
24/12/2011
Frederico Vasconcelos
Filipe Coutinho


Juízes defendem corregedora do CNJ e expõem racha dacategoria


Um grupo de juízes federais começou a coletar ontem assinaturas para um manifesto público condenando as críticas feitas pela Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil) à atuação da corregedora nacional de Justiça, ministra Eliana Calmon.

"Entendemos que a agressividade das notas públicas da Ajufe não retrata o sentimento da magistatura federal. Em princípio, os juízes federais não são contrários a investigações, promovidas pela corregedora. Se eventual abuso investigatório ocorrer é questão a ser analisada concretamente", afirma o manifesto, para realçar que "não soa razoável, de plano, impedir a atuação de controle da corregedoria"

A ideia surgiu em lista de discussão de magistrados federais na internet. Foi proposta pelo juiz federal Rogério Polezze, de São Paulo.
Ganhou adesões após a manifestação do juiz Sergio Moro, do Paraná, especializado em casos de lavagem de dinheiro, não convencido de que houve quebra de sigilo de 200 mil juízes.

"Não estou de acordo com as ações propostas no STF nem com as desastradas declarações e notas na imprensa", disse Moro. "É duro como associado fazer parte dos ataques contra a ministra."

"Não me sinto representado pela Ajufe, apesar de filiado", afirmou o juiz federal Jeferson Schneider, de Mato Grosso Paraná, em mensagem na lista de discussão dos juízes. Marcello Enes Figueira disse que "assinava em baixo do que afirmou o colega Sergio Moro".

O juiz federal Odilon de Oliveira, de Campo Grande (MS), também aderiu, afirmando que "entregar" a ministra era um "absurdo" que a Ajufe cometia. "A atitude da Ajufe, em represália à ministra é inaceitável", diz o juiz Eduardo Cubas, de Goiás.

O juiz Roberto Wanderley Nogueira, de Pernambuco, criticou as manifestações das entidades. E disse que "a ministra não merece ser censurada, e tanto menos execrada pelos seus iguais, pois seu único pecado foi ser implacável contra a corrupção".

O presidente da Ajufe, Gabriel Wedy, atribuiu a iniciativa à proximidade das eleições para renovação da diretoria da Ajufe, em fevereiro. "É um número bastante pequeno, diante de 2.000 juízes federais", disse. "São manifestações democráticas e respeitamos o direito de crítica."

A Ajufe e outras duas associações de juízes entraram ontem com representação na Procuradoria-Geral da República contra Calmon, para que seja investigada sua conduta na investigação sobre pagamentos atípicos a magistrados e servidores.

Para os juízes, a ministra quebrou o sigilo fiscal dos investigados, ao pedir que os tribunais encaminhassem as declarações de imposto de renda dos juízes.
"Não se pode determinar ou promover a 'inspeção' das 'declarações de bens e valores' dessas pessoas, porque tais declarações são sigilosas e não poderiam ser objeto de qualquer exame por parte da corregedora nacional de Justiça", diz a representação.

Calmon não comentou a representação dos juízes. Anteontem, a ministra disse que os magistrados e servidores são obrigados a entregar aos tribunais todo ano a declaração de Imposto de Renda.

Segundo Calmon, os dados são entregues aos tribunais justamente para que a corregedoria tenha acesso, e não para "ficarem dentro de arquivos".
O objetivo da corregedora é cruzar as informações com levantamento do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), que apontou 3.438 juízes e servidores com movimentações atípicas.

A polêmica começou quando o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Ricardo Lewandowski mandou parar a investigação no Tribunal de Justiça de São Paulo, primeiro alvo da corregedoria do CNJ.

Os juízes então passaram a acusar a ministra Eliana Calmon de quebrar o sigilo de todos os magistrados e servidores que foram alvo da varredura do Coaf, um total de mais 200 mil pessoas.

A ministra rebateu e disse que as acusações são uma maneira de tirar o foco da investigação do CNJ.

Para que não sejamos ingênuos a respeito do Facebook

Veja matéria do periódico espanhol sobre decisão de Tribunal da Irlanda a respeito do Facebook

El Pais
25/12/2011

Un estudiante fuerza a Facebook a mejorar la privacidad


El estudiante de derecho vienés Max Schrems, de 24 años, encontró 1.222 páginas en Facebook, alojadas en un CD, con datos personales divididos en 57 categorías, como aficiones, gustos, opiniones religiosas, y un largo etcétera, que lo dejó helado. Entre los datos, acumulados durante sus tres años en la red social, le alarmó que aparecieran informaciones y conversaciones que había borrado, pero que Facebook no eliminó definitivamente, las siguió conservando en sus archivos digitales.

La noticia en otros webs


"Cuando se elimina algo de Facebook, todo lo que sucede es que te lo esconden para que no lo veas", explica Schrems. "Cada vez que le escribes a otra persona, en realidad lo haces a tres, Facebook siempre está presente", advierte. La red social analizó de forma sistemática todos sus datos sin pedirle su consentimiento, incluido su parecer cuando apretaba el botón "me gusta" no sólo en la red social sino en cualquier página digital con ese "plug-in". "Facebook sabe más de nosotros de lo que la Stasi y la KGB (la policía política de la Alemania comunista y la Unión Soviética) sabía sobre cualquier ciudadano normal", reflexiona.

Schrems sostiene que lo que la empresa ofrece -mediante una descarga- a sus usuarios como su "archivo personal" no es toda la información que atesora sobre ellos, sino la que se ajusta a las leyes locales. Sin embargo, su insistencia a través de numerosos correos hizo que a él si le diesen toda la información. "Un error" que expuso a la empresa, sostiene.

El archivo fue la clave para iniciar un pulso con el gigante de Internet que se prolongó en 22 reclamaciones ante el organismo irlandés para la protección de datos (DPC), que acabó dándole la razón el miércoles pasado. La sede internacional de Facebook -que agrupa a todos los usuarios salvo los de EEUU y Canadá- se encuentra en Dublín, lo que implica que la compañía debe cumplir con las leyes europeas de protección de datos, que son más estrictas que las estadounidenses.

Después de una investigación de tres meses por parte de las autoridades irlandesas, la red social se comprometió el pasado miércoles a mejorar la privacidad de los alrededor de 500 millones de usuarios que dependen de las oficinas de la empresa en Dublín.
Las mejoras que Facebook aplicará incluyen una mayor transparencia en la gestión de las informaciones personales, como impedir utilizar una imagen del usuario para fines comerciales sin su consentimiento y eliminar la información que la red social obtiene a través del botón "me gusta", entre otros aspectos. También se limita el tiempo que Facebook puede conservar informaciones sobre la navegación del usuario, como, por ejemplo, las búsquedas que ha hecho y cuando utiliza otros "plug-ins".

Dentro de seis meses otro informe de las autoridades irlandesas evaluará los progresos y se hará también público para mejorar la confianza de los usuarios, algo que aceptó Facebook. Estas medidas, Schrems las califica de "un primer paso en un largo camino", aunque no ocultó su alegría porque se trata de cambios más importantes de los que se habían hecho en el pasado. ¿Pero cómo es posible que esas mejoras en la protección de datos sólo se hayan producido por el empeño personal de un ciudadano corriente? "Las leyes europeas son muy buenas, pero se falla en su aplicación. También es una cuestión de medios. La oficina irlandesa de protección de datos tiene 20 miembros y Facebook es un gigante que gestiona información de millones de personas", responde.

Schrems reconoce que Facebook "no ha abusado del enorme poder que le da tener semejante información sobre millones de personas. Pero lo problemático es que exista algo con tanto poder sobre la gente". Conservar y analizar semejante montaña de datos pueden tener "un gran potencial para crear problemas", sostiene el joven austríaco, en caso de que se produjese, por ejemplo, una filtración por un ataque informático. Aunque pueda sorprender, este estudiante no ha renunciado a su cuenta de Facebook, por un lado porque tiene a muchos amigos con los que perdería contacto, y por otro porque "es la empresa y no los usuarios la que tiene que cambiar", asegura.

Obviedade ou mediocridade?

Arroz 2011: Neymar e Anderson Silva. A aposta da TV aberta é sempre pela obviedade.

Esquenta – Rede Globo
25/12/2011

Faustão -  Rede Globo
25/12/2011

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O mais do mesmo

Jornais impressos, portais e telejornais oferecem novamente o mesmo de sempre. Abaixo comentário do site “observatório da imprensa” sobre a falta de criatividade nas redações.



Revista do Brasil
23/12/2011
Laurindo Lalo Leal Filho

 

Por um Natal sem neve na TV

Final de ano na TV é sempre previsível. A propaganda cresce, programas se repetem. São filmes com muita neve, os mesmos musicais e infalíveis resenhas jornalísticas

A televisão no Brasil não dita apenas hábitos, costumes e valores, mas também o ritmo de vida da maioria da população. Nos dias úteis com seus horários para “donas de casa”, crianças e adultos e nos fins de semana com uma programação diferenciada, supostamente mais adaptada ao lazer. A TV organiza também as comemorações das efemérides ao longo do ano, das quais o ponto alto é o Natal. Com muita antecedência saltam da tela canções da época e muita propaganda, criando clima para o “espírito natalino”.
As crianças são o alvo principal. Se já são bombardeadas com apelos de compra o ano todo, no Natal a pressão cresce. Apresentadoras joviais e alegres conquistam a confiança dos pequenos telespectadores com seus dotes artísticos para, em seguida, atraí-los para as compras, no mais das vezes, desnecessárias. Da classe média para cima é comum ver crianças com brinquedos pouco ou nada usados, comprados apenas como resposta aos apelos publicitários.
Mas a TV não está só na casa de quem pode comprar. Hoje ela é um bem universalizado no Brasil, advindo daí a sensação de exclusão sofrida por crianças cujas famílias estão impossibilitadas de satisfazer seus desejos. Esse desconforto resulta da crença de que o consumo é um valor em si, substituto da cidadania. Só é cidadão quem consome.
“O que singulariza a grande corporação da mídia é que ela realiza limpidamente a metamorfose da mercadoria em ideologia, do mercado em democracia, do consumismo em cidadania”, diz o professor Octávio Ianni em “Príncipe eletrônico”, artigo que se tornou referência para a discussão do papel político da comunicação nas sociedade modernas.
No Natal, a metamorfose atinge seu auge e segue até a virada do ano. As mercadorias ganham vida na TV e estão à disposição para satisfazer todos os desejos, o mercado oferece democraticamente a todos os mesmos produtos e, ao consumi-los, exerceríamos nossos direitos de cidadãos. São falácias muito bem embaladas em luz, cores e sons sedutores. As regras do jogo são essas. Quem mantém as TVs comerciais são os anunciantes. Apesar disso, as emissoras poderiam ter um pouco mais de criatividade. Não há Natal na TV brasileira sem a milésima reprise do filme Esqueceram de Mim, com neve em quase todas as cenas, ou sem o indefectível “especial”, sempre com o mesmo cantor.
Nem o jornalismo escapa, com colagens em forma de clipes usadas à exaustão mais para reviver sustos já sofridos pelo telespectador do que para informar. Em determinado ano, que pode ser qualquer um, o apresentador famoso abria a resenha na principal rede de TV exclamando: “Um ano de arrepiar em todo o planeta. Incêndios, terremotos, furacões”. E dá-lhe imagens espetaculares, que de notícia pouco têm.
Podia ser diferente? Claro que sim. Poderíamos ter na TV um Natal mais brasileiro e um final de ano criativo (com a publicidade mais controlada). Realizadores não faltam, o que falta são oportunidades para mostrar seus trabalhos. Mais de 200 deles apresentaram pilotos de programas no Festival Internacional de Televisão, realizado em novembro no Rio. Não haveria ali gente capaz de tirar a televisão da rotina desta época?
Criatividade também não falta na produção audiovisual brasileira. Precisamos é de ousadia para mostrá-la ao público oferecendo bens culturais capazes de enriquecê-lo espiritualmente. Ou como dizia um diretor da BBC, a melhor TV do mundo: “Temos a obrigação de despertar o público para ideias e gostos culturais menos familiares, ampliando mentes e horizontes, e talvez desafiando suposições existentes acerca da vida, da moralidade e da sociedade. A televisão pode, também, elevar a qualidade de vida do telespectador, em vez de meramente puxá-lo para o rotineiro”.
Belo desafio, não? Feliz Natal.

Notícia velha como se fosse nova.

Jornal Nacional faz alarde com o valor do salário mínimo como se fosse novidade. A notícia é apenas que a Presidente Dilma assinou o Decreto que define o valor, nada além.

Jornal Nacional
23/12/2011

O conflito entre a Corregedoria do CNJ e as Associações é assunto de todos nós. Fiquemos atentos.

Estadão se posiciona e toma partido pela CNJ na polêmica da Corregedoria e as associações de juízes. Colunista da Folha explica as motivações e os interesses das associações.


Estadão
23/12/11
Opinião


Retrocesso institucional


Ao privar o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) do poder de investigar juízes acusados de irregularidades, por meio de uma liminar, concedida às vésperas do recesso do Judiciário pelo ministro Marco Aurélio Mello, o Supremo Tribunal Federal (STF) surpreendeu os meios políticos e jurídicos. A liminar esvazia o poder da Corregedoria Nacional de Justiça e, como só voltará a ser apreciada em fevereiro, dará aos juízes que estão sendo investigados o tempo necessário para apagar rastros ou sumir com provas.
Entre as Cortes que o CNJ está investigando se destaca o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), onde há suspeitas de pagamentos de honorários em valores muito acima do teto salarial fixado pela Constituição. Um de seus desembargadores é o presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) - a entidade que questionou as competências do órgão responsável pelo controle externo da magistratura para tentar impedir a realização de uma devassa na folha de pagamentos da Justiça paulista. Na segunda-feira, a AMB, em conjunto com outras entidades de juízes, pediu outra liminar - também concedida - suspendendo o poder do CNJ de quebrar o sigilo bancário de juízes. Para a AMB, o CNJ só poderia atuar nos casos de omissão das corregedorias dos tribunais. Para o CNJ, a prerrogativa suspensa permitia ao órgão identificar movimentações financeiras suspeitas de magistrados.
Há três meses, a corregedora nacional de Justiça, ministra Eliana Calmon, acusou a Justiça paulista de ser a mais corporativa do País e disse que só conseguiria investigá-la para valer "no dia em que o sargento Garcia prender o Zorro", ou seja, nunca. "O TJSP é refratário a qualquer ação do CNJ e o presidente do STF é paulista e foi desembargador", disse a corregedora, referindo-se ao ministro Cezar Peluso.
A liminar concedida à AMB parece dar razão a Eliana Calmon. O recurso da associação de juízes deveria ter sido votado em setembro. Mas, por causa do apoio da opinião pública ao CNJ, principalmente depois de a corregedora ter afirmado que o corporativismo das corregedorias judiciais favorece os "bandidos de toga" e a "minoria de juízes que se valem da toga para cometer deslizes", o recurso da AMB foi tirado da pauta. E só agora o ministro Marco Aurélio deu a conhecer a sua decisão liminar - quando não há tempo de submetê-la ao plenário antes do recesso do STF.
A oposição ao CNJ começou logo após a aprovação da Emenda Constitucional 45, em dezembro de 2004. Ao votar esse dispositivo da reforma do Judiciário, a maioria parlamentar considerou que as corregedorias tinham sua autoridade moral e sua eficácia funcional corroídas pelo corporativismo e deu à Corregedoria Nacional de Justiça a prerrogativa de abrir investigações no momento em que quisesse. Se as corregedorias judiciais fossem eficientes, não teria ocorrido, por exemplo, o desvio de quase R$ 170 milhões das obras do Fórum Trabalhista de São Paulo, do qual um dos beneficiados foi um ex-presidente do Tribunal Regional do Trabalho. Recentemente, os jornais noticiaram que a Corregedoria do TJ do Maranhão recebeu 120 representações contra juízes num só ano e não puniu nenhum deles. O mais escandaloso é que quase todos os procedimentos foram arquivados por decurso de prazo.
Atualmente, tramitam na Corregedoria Nacional de Justiça 115 processos contra juízes de primeira instância e 35 contra desembargadores. Em seis anos de atuação, o CNJ condenou cerca de 50 magistrados, dos quais metade foi punida com a pena máxima no plano administrativo: a aposentadoria compulsória. No mesmo período, o CNJ foi objeto de 32 ações diretas de inconstitucionalidade, das quais 20 foram propostas por entidades de juízes, como a AMB. Os números revelam "uma estratégia de guerrilha processual permanente contra o CNJ", diz Joaquim Falcão, diretor da FGV e um dos mais respeitados pesquisadores do Judiciário.
A criação do CNJ, cujo saldo de realizações é inegável, foi a principal inovação da reforma do Judiciário. Resta esperar que, ao retomar os trabalhos, em 2012, o STF casse a liminar que promove um retrocesso institucional, esvaziando o CNJ e fortalecendo as desmoralizadas corregedorias judiciais. 



Folha.Com
23/12/2011
Kennedy Alencar

CNJ merece estátua

As entidades de classe da magistratura deveriam erguer uma estátua em homenagem ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça). A varredura financeira da vida de 216.800 juízes, servidores e parentes encontrou 3.438 movimentações suspeitas --apenas 1,6% do universo investigado.

Ora, é um dado que deveria ser comemorado. Na prática, a medida resultou num atestado de boa conduta, digamos assim, de 98,4% dos CPFs que passaram pelo escrutínio do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão subordinado ao Ministério da Fazenda.

Mas pensam diferente a AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros), a Anamatra (Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho) e a Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil). Essas entidades enxergaram a varredura como uma afronta à lei.
Esquisito.

A demonização dos juízes deve ser evitada. Os dados recomendam isso. Afinal, o levantamento do CNJ mapeou suspeitas a respeito de uma minoria. A corregedora do CNJ, Eliana Calmon, disse que boa parte dessas suspeitas poderá ser esclarecida com o exame detalhado caso a caso. Portanto, esse 1,6% tende a ficar menor.

Por que tanto barulho?
Porque o CNJ resolveu investigar peixes graúdos. Decidiu comprar briga com as cúpulas dos tribunais estaduais e com o presidente do STF, Cesar Peluso, que tem agido com um corporativismo que incomoda colegas seus do Supremo Tribunal Federal.

As entidades de classe da magistratura e o ministro Peluso não querem dar satisfações à opinião pública. Não enxergaram que o Brasil mudou. Não aceitam que a sociedade faça uma distinção entre o que é legal e o que é moralmente correto. Apelam ao formalismo jurídico, esquecendo-se de que o direito não é imutável. Por isso, não querem jogar luz sobre pagamentos milionários de auxílio-moradia dos anos 90.

Peluso e o ministro do STF Ricardo Lewandovski receberam esse benefício. Integrantes do Tribunal de Justiça de São Paulo e do STJ (Superior Tribunal de Justiça) também se encontram na mesma situação.

Nada mais justo, para usar a palavra precisa no caso, do que fornecer à sociedade uma explicação dos valores e dos motivos dos pagamentos.


O que a AMB, a Anamatra, a Ajufe e alguns ministros de tribunais superiores querem é usar um escudo legalista para deixar na sombra assuntos que merecem uma explicação política. Parece que vão perder essa batalha.