sábado, 26 de novembro de 2011

A lixeira virou pó?


Tribunal Regional Federal da 1ª Região absolveu o ex-Reitor da UnB, Timothy Mulholland, de improbidade administrativa. Em 2008, a imprensa noticiou gasto milionário da Fundação da Universidade de Brasília na reforma de apartamento. Entre as despesas efetuadas, a mídia elegeu a lixeira como símbolo do descaso com o dinheiro público. Durante dias e noites a imagem da lixeira aparecia nos telejornais.

A notícia da absolvição na aparece em todos os veículos que em 2008 que julgaram sumariamente o reitor. Busca no google indica apenas o globo, a folha, jornal de Pernambuco e o jornal nacional.

Para ilustrar o que foi a cobertura na época, veja abaixo na edição do Programa Hoje em Dia (08/04/2008) a indignação do Jornalista Brito Junior: “Esse Reitor não tem condição moral de  continuar na universidade. Esta é a verdade.”




(comentário do Brito Junior a partir de 1m e 40)



Folha de São Paulo
25/11/201

Ex-reitor da UnB é inocentado por Tribunal Regional Federal

FELIPE SELIGMAN

O ex-reitor da UnB (Universidade de Brasília) Timothy Mulholland foi inocentado pelo TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região) da acusação de improbidade administrativa.

Ele foi acusado pelo Ministério Público Federal de desviar R$ 470 mil para decorar, com móveis e utensílios de luxo, entre eles uma lixeira de R$ 990, seu apartamento funcional.

Procuradoria recorre de decisão que absolveu ex-reitor da UnB por gastos
Ex-reitor da UnB consegue derrubar no STJ manifestação do Ministério Público

Ele já havia sido absolvido, no ano passado, pela primeira instância da Justiça Federal, mas o MPF recorreu daquela decisão.

Além de Mulholland, também foi inocentado Érico Paulo Weidle, decano da administração da UnB.

Para a relatora do caso, magistrada Assussete Magalhães, não foi Mulholland quem decidiu gastar o dinheiro no apartamento e sim o Conselho Direito da Universidade, "órgão colegiado competente".

Segundo ela, testemunhas do processo afirmaram que o ex-reitor não teria exercido influência nas decisões e que, inclusive, profissional responsável pela decoração do apartamento não o conhecia e "não teve contato para a escolha e a compra do mobiliário".

O tribunal ainda afirmou que, apesar de terem sido comprados durante a gestão de Mulholland, todos os móveis e utensílios de luxo hoje fazem parte do patrimônio da UnB.

O dinheiro gasto no apartamento era da Fundação Universidade de Brasília. O Ministério Público argumentava que houve desvio de recursos, pois deveriam ser utilizados para investir em ensino, pesquisa e desenvolvimento institucional --e não para mobiliar o imóvel do reitor.

Os procuradores ainda podem recorrer ao STJ (Superior Tribunal de Justiça).
Mulholland renunciou ao cargo em abril de 2008, depois que alunos ocuparam a reitoria por cerca de duas semanas. Voltou a dar aulas na UnB no ano passado, quase um ano após ter deixado a direção da universidade.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Título da notícia do Portal Globo torna possível a gravidez masculina.

Notícia irrelevante fica ainda pior com a incapacidade do jornalista escrever bem.  Segundo o Portal, o ator saiu da maternidade acompanhada da esposa. Não seria o contrário?




Globo.com
25/11/2011

Ricardo Pereira deixa a maternidade com a mulher e o filho recém-nascido


Ricardo Pereira e sua mulher, Francisca Pinto, deixaram, na manhã desta sexta-feira, 25, a maternidade Perinatal de Laranjeiras, Zona Sul do Rio, com seu filho recém-nascido, Vicente. O bebê nasceu na última terça-feira, 22, e, na ocasião, Ricardo dividiu sua alegria com seus seguidores no Twitter. "Hoje é um dia pra recordar para sempre, um dia único 22/11/11, linda data num país alegre e que também me recebeu tão bem... Obrigado...", escreveu o ator.

sábado, 19 de novembro de 2011

O silêncio dos (não) inocentes.

Nos últimos dias a Veja se limitou a reproduzir as Notas da Chevron sobre o vazamento de óleo em Campos e agora acusa as autoridades por não se preocuparem com os impactos ambientais. Porém, o mais revelador no texto é a frase “Pouco se falou dos danos causados ao meio ambiente.” 

14/11

15/11

17/11
Chevron anuncia redução devazamento de óleo no Atlântico


Veja
19/11/2011
Carolina Guerra

Vazamento da Chevron completa 10 dias em meio a dúvidas

Há informações desencontradas sobre a extensão da mancha de óleo. Pouco se sabe ainda sobre o tamanho do impacto ambiental provocado pelo acidente



O vazamento de petróleo em uma área de exploração da Chevron na Bacia de Campos completou dez dias com muitas informações desencontradas e nenhuma preocupação das autoridades em medir os impactos ambientais.
O ex-ministro do Meio Ambiente Carlos Minc sobrevoou nesta sexta-feira o local exato do vazamento, a 120 quilômetros da costa,  e diz ter visto 'borbulhas no mar', que indicariam que o problema ainda não foi solucionado. A petrolífera americana afirma que o volume despejado no oceano diminui bastante e, agora, trata-se apenas de 'gotejamentos ocasionais'.


Há divergência também sobre a extensão atual da mancha de óleo, que chegou a atingir 160 quilômetros quadrados. A Agência Nacional de Petróleo (ANP) diz que a área afetada é de 12 quilômetros quadrados. A medição da Chevron indica 1,8 quilômetro quadrado. Minc avalia que a dimensão é 'muito maior' do que foi informado. 


Pouco se falou dos danos causados ao meio ambiente. Um cruzamento do dados realizado pela ong Greenpeace mostra que o acidente pode afetar a vida de pelo menos seis espécies diferentes. As mais afetadas pela mancha são a jubarte, a cachalote e a piloto-de-nadadeiras-curtas. Baleias do tipo bryde, minke-anã e franca, porém, também correm o risco de nadar de encontro à mancha.  “A Chevron terá de pagar pelos impactos causados no meio ambiente”, disse o ex-ministro.


Causas - A petroleira evita falar das causas do acidente antes do final das investigações. Admite, no entanto, erro de cálculo na pressão. "Nós subestimamos a pressão no reservatório. Era mais alta do que esperávamos. O peso da lama foi programado para outra pressão", afirmou George Buck, presidente da Chevron Brasil, em uma entrevista que não pôde ser nem gravada e nem filmada. Ele também não soube explicar porque houve vazamento do óleo em um trecho específico da tubulação,conforme mostrou o vídeo divulgado pela ANP.


A Polícia federal apura a informação de que o poço foi perfurado em uma extensão 500 metros além do permitido. Sete funcionários da Chevron foram intimados a dar esclarecimentos na próxima semana, inclusive os engenheiros que trabalham na plataforma.


A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e a Marinha do Brasil (MB), se juntaram para acompanhar as investigações do caso.  Os órgãos dividiram as funções. Assim, a ANP será responsável por apurar as causas do acidente e fiscalizar a contenção do vazamento; o Ibama deverá avaliar as ações da empresa para minimizar os danos ao meio ambiente, e a Marinha olhará as condições de segurança marítima da plataforma, além de disponibilizar navios e helicópteros para o acompanhamento das atividades. 


O poço com problemas está no campo de Frade, na Bacia de Campos. Sua capacidade de produção é de 75 mil barris de petróleo por dia, que lhe garante o posto de oitavo maior campo do Brasil. O empreendimento é controlado em sua maior parte pela Chevron, que detém 52% das ações. Mas Petrobras e o consórcio japonês Frade Japão, ficam em segundo e terceiro, com 30% e 18% de participação.


Histórico -  O caso não é o primeiro incidente do gênero no Brasil. A história da indústria petroleira no Brasil guarda em sua história tragédias como a explosão da plataforma P-36, da Petrobras, em março de 2001, que deixou 11 mortos, e um duto que se rompeu na Baía da Guanabara e despejou 1,3 milhão de litros de petróleo em janeiro de 2000. 


Se comparado ao vazamento ocorrido em uma plataforma da BP no Golfo do México, no ano passado, o caso do Campo de Frade é de pequenas proporções. "Mesmo assim é preocupante. Acidentes na cadeia de petróleo sempre causam impacto”, diz o ambientalista Carlos Bocuhy. Um detalhe que une os dois casos, porém, é que tanto BP quanto Chevron contrataram a mesma empresa terceirizada para a perfuração de poços, a Transocean.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Rigor jornalístico? Não é com a Veja.

Observatório da Imprensa ilustra didaticamente a falta de compromisso da Veja com a notícia. Segundo a revista a população da Rocinha flutua ao sabor da preguiça de cada jornalista.

Veja
18/11/2011

Veja e o povo da Rocinha

Por Mauro Malin em 18/11/2011 na edição 668
A TV Globo dá 70.000 (arredondamento do número oficial do Censo de 2010 do IBGE), o jornal O Globo dá 100.000. Nem dentro das Organizações Globo os jornalistas se entendem a respeito da população da Rocinha.

Evidência de distanciamento, desconhecimento, falta de interesse por parte da imprensa, os números da Rocinha sempre foram tratados a pontapés. A população da Rocinha é um número-sanfona. Alguns indivíduos delirantes já chegaram a falar em 400.000 moradores. Seria a maior favela do Rio, do Brasil, da América do Sul, da América Latina. Não é nem do Rio.
Quem já sobrevoou a Rocinha de helicóptero sabe que naquele espaço não cabem 100.000 pessoas, apesar do esforço caprichoso dos moradores para poupar espaço: razão das escadas que parecem degraus de escalada em montanha; razão de uma incidência de tuberculose acima da média da cidade e do país.
A montanha-russa da Veja
Um dos veículos que mais abusaram da ignorância própria e dos leitores foi a Veja. Ao longo dos anos, nas páginas da revista, a população residente da Rocinha andou numa montanha russa. Repórteres e editores nem se deram o trabalho de consultar os números usados na reportagem anterior.

Em dez meses do mesmo ano (1975) a população caiu de 150.000 para 80.000. Subiu para 145.000 em 1978. Em fevereiro de 1980, caiu para 98.000. Meses depois, a população da Rocinha informada pela Vejasaltou para 200.000. Entre 1980 e 1989 não aconteceu nada na favela: a população estacionou em 200.000 moradores. Em fevereiro de 1994, foi dividida por cinco (42.800), mas cinco meses depois apareceria revigorada, com 170.000 habitantes.

Seria uma pândega, se não fosse um crime jornalístico que se constata melhor na tabela abaixo.
      População da Rocinha
            segundo a Veja
16/9/1970
90.000
28/2/1975
150.000
24/12/1975
80.000
9/8/1978
145.000
2/7/1980
200.000
12/7/1989
200.000
20/4/1994
42.800
2/9/1994
170.000
16/3/2005
100.000
6/8/2008
67.000

Quem desconfiar dos dados faça o favor de consultar o Acervo Digital da Veja. Dá um certo trabalho, mas é uma recompensadora viagem ao diletantismo da revista brasileira com maior tiragem.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Jornal Nacional pautado por release

A Globo não considera importante mandar o Globocop cobrir o vazamento em Campos e as notícia continuam sendo pautadas pela Companhia. Hoje a noite o jornal mostrou imagens cedidas pela Chevron.

Jornal Nacional
15/11/2011


Chevron Brasil informa que conseguiu reduzir vazamento de óleo no Campo Frade (RJ)



Link:

NOTA 0

Site não informa o leitor sobre vazamento da bacia de Campos, apenas se limita a reproduzir notas. A pergunta é: Preguiça ou conivência.


GLOBO.COM
14/11/2011

 

Após vazamento de óleo, Chevron tenta selar poço na Bacia de Campos


A Chevron Brasil informou nesta segunda-feira (14) que o vazamento de óleo nas proximidades do Campo Frade, na Bacia de Campo, pode estar relacionado com a perfuração de um poço de avaliação. Segundo a companhia, a empresa iniciou no domingo os trabalhos para "selar e abandonar" o poço.

"As investigações levaram a Chevron Brasil e os órgãos governamentais a suspeitar que um poço de avaliação que estava sendo perfurado no Campo Frade, na semana passada, teria ligação com as exsudações que estão causando a mancha na superfície", informou a Chevron, em comunicado.

"A Chevron Brasil solicitou, no sábado, à Agência Nacional de Petróleo (ANP) e recebeu aprovação para selar e abandonar esse poço. Desde então, a Chevron iniciou o processo de selar e abandonar o poço, atividades que envolvem uma série de etapas técnicas e ações que levarão à cimentação do poço na superfície", acrescentou a nota.

Em nota, a ANP informou que o abandono do poço prevê, em primeiro lugar, o emprego de lama pesada para “matar” o poço e testar a eficácia dessa medida na parada do vazamento. Em seguida, virá o uso da cimentação para “matar” o poço de forma definitiva. De acordo com a agência, pelo cronograma previsto, o vazamento do poço deverá estar controlado nos próximos dias.

O derramento foi revelado na última quinta-feira (10). As atividades de perfuração no local foram paralisadas no mesmo dia.

A ANP informou nesta segunda-feira que a causa do vazamento "ainda é desconhecida". "A principal hipótese, levantada pela concessionária, é de que uma fratura provocada por procedimento estabilização do poço tenha liberado fluido que vazou por uma falha geológica, formando a mancha identificada no dia 8", informou a agência em comunicado.

"A Chevron acionou seu Plano de Emergência e é inteiramente responsável pela contenção do vazamento. Dezoito navios estão na área: 8 da própria Chevron e outros 10 cedidos pela Petrobras, Statoil, BP, Repsol e Shell", acrescentou a ANP.
Segundo a companhia, o volume da mancha "continua dentro da mesma faixa informada anteriormente". A área da mancha seria de 163 km2. A estimativa de óleo em superfície era entre 521 e 882 barris.
"Considerando a lâmina d’água de 1184 metros, a existência de corrente e de um fator de dispersão natural do óleo, admite-se que a vazão média da exsudação pode estar entre 200 a 330 bpd", informou a ANP.

"A empresa segue coordenando e enviando recursos para a operação de controle da mancha, que está localizada a cerca de 120 quilometros da costa de Campos e afastando-se da costa e deslocando-se na direção Sudeste", destacou a Chevron.

Na sexta, a presidente Dilma Rousseff determinou ao Ministério de Minas e Energia, à Agência Nacional de Petróleo (ANP) e à Marinha uma "rigorosa apuração" do vazamento, segundo comunicado divulgado pelo Planalto.

Quando o jornalismo se perde nos números da economia.

Jornalista da Agência Estado ajuda a tornar a economia um assunto ainda mais hermético. Neste caso, a economia tem que ser inocentada. O problema é o jornalista, incapaz de escrever de forma clara.

Estadão
15/11/2011
Carlos Mercuri

FRANKFURT - O crescimento econômico da Alemanha acelerou no terceiro trimestre, em linha com as expectativas, segundo dados do órgão oficial de estatísticas, Destatis, divulgados hoje.

O Produto Interno Bruto (PIB) alemão subiu 0,5% no terceiro trimestre ante o período anterior, de acordo com preços ajustados sazonalmente e ao calendário. Em bases anuais, o crescimento econômico foi de 2,6% no período, também ajustado à sazonalidade e ao calendário.
O dado preliminar veio em linha com as previsões de analistas ouvidos pelo Dow Jones Newswires.
Os dados do segundo trimestre foram revisados para cima em 0,2 ponto porcentual, tanto na base trimestral quanto na anual. Os novos números mostram crescimento alemão de 0,3% no segundo trimestre ante o primeiro e de 2,9% em termos anuais no período.
Especialistas esperavam que a economia alemã recuperasse no terceiro trimestre, mas veem considerável recuo no quarto trimestre e no início de 2012. Os detalhes do PIB serão divulgados pelo Destatis no próximo dia 24. As informações são da Dow Jones

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Revista Época não ouviu os conselhos do Dalai Lama: Jornalista tem que ser “elefante” – mostrar a informação completa.



O título da matéria abaixo é emblemático. 12 minutos de denúncia e nenhuma linha de jornalismo.  O jornalista esquece de investigar uma peça chave: a Procuração.  Assim como mostrou a cópia da Nota fiscal, deveria mostrar a cópia da procuração. Em tempo: Não seria necessário perguntar ao empresário porque ele deu esta procuração ao tal sujeito que sacou o dinheiro? E ainda: Nenhum comentário sobre o valor de cada livro.

Revista Época
14/11/2011
MARCELO ROCHA


 

Doze minutos de denúncias


A mistura de negócios com a política – ainda mais em período eleitoral – levantou novas suspeitas de irregularidades, agora na Paraíba. O empresário Daniel Cosme Guimarães Gonçalves venceu no ano passado uma licitação da prefeitura de João Pessoa, capital do Estado. Foi pago – mas não viu o dinheiro. Em um vídeo de 12 minutos, Gonçalves afirma que o dinheiro público foi desviado para o caixa da vitoriosa campanha eleitoral do governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), eleito no ano passado. Gonçalves diz que, entre os implicados na fraude, estariam Coriolano Coutinho, irmão do governador, seu “mentor em superfaturar e fazer caixa dois”, e Alexandre Urquiza, ex-chefe de gabinete de Ricardo Coutinho e atual secretário de Transparência Pública da prefeitura de João Pessoa.

Aos 36 anos, Gonçalves está acostumado a fazer negócios com governos. Ele trabalha com a distribuição de livros no Nordeste há mais de dez anos. Em fevereiro de 2010, sua empresa, a New Life, venceu uma licitação da prefeitura de João Pessoa para fornecer material didático a escolas da rede municipal. A compra dos livros foi financiada com recursos do Ministério da Educação. Na gravação, a que ÉPOCA teve acesso, Gonçalves afirma que cumpriu sua parte no contrato – forneceu os livros –, mas não recebeu o dinheiro combinado. Segundo ele, o representante da New Life, Pietro Harley Dantas Félix, sacou os R$ 2,3 milhões pagos pela prefeitura de João Pessoa e entregou uma parte ao grupo político do governador Ricardo Coutinho. Félix é amigo de Coriolano, o irmão do governador. Como evidência da irregularidade, Gonçalves afirma que os valores foram sacados por Félix numa agência do Banco do Brasil em Taperoá, cidade a 216 quilômetros de João Pessoa. O procedimento, segundo Gonçalves, não é comum na administração municipal.

De acordo com Gonçalves, Félix só conseguiu fazer as retiradas porque contou com a conivência da prefeitura de João Pessoa, que emitiu cheques nominais a ele. “Fico me perguntando como a prefeitura pagou naquele mesmo dia três empresas com TED (transferência eletrônica) e, no meu caso, foram entregues cheques em nome de pessoa física”, diz. No vídeo, Gonçalves afirma que procurou Félix para receber o dinheiro. No dia 22 de outubro de 2010, Gonçalves registrou um boletim de ocorrência em que acusa Félix de ameaçá-lo. Ainda durante a disputa eleitoral, Gonçalves contou sua história a políticos da Coligação Paraíba Unida, formada por 12 partidos adversários de Ricardo Coutinho. A coligação enviou uma representação à Justiça Eleitoral contra a candidatura de Coutinho por crime eleitoral. Em julho deste ano, Gonçalves gravou seu depoimento em vídeo. “Não fiz o vídeo para exploração política”, diz Gonçalves. “Mas para me resguardar das ameaças que venho sofrendo.”

Gonçalves recorreu à Justiça da Paraíba para tentar receber os R$ 2,3 milhões da prefeitura de João Pessoa, hoje administrada por Luciano Agra (PSB). Agra era o vice-prefeito de Ricardo Coutinho até março de 2010. Em seu parecer, a Procuradoria-Geral de João Pessoa contesta os argumentos de Gonçalves. A Procuradoria afirma que Félix tinha plenos poderes para receber o pagamento porque tinha uma procuração de Gonçalves. Gonçalves nega que a procuração servisse para Félix sacar o dinheiro. Além do caso dos livros da New Life, na representação enviada à Justiça Eleitoral, os opositores do governador Coutinho relacionam Félix a outros negócios. Ele é acusado de ser ligado às empresas L&M Lojão do Escritório Ltda. e Soluções AP, vencedoras de licitações da prefeitura de João Pessoa. Os negócios somam cerca de R$ 3,7 milhões para fornecer livros, mas o material, segundo as acusações, não chegou às escolas. “Frise-se que essas empresas são fantasmas, inexistindo sequer prédio físico no endereço indicado nos seus contratos sociais”, afirma o texto da representação.

O governador Ricardo Coutinho nega que tenha ocorrido caixa dois em sua campanha. Coutinho afirma que só tomou conhecimento do caso durante a campanha eleitoral. Diz que cobrou explicações e foi informado pela Secretaria de Educação do município de que o processo de compra dos livros foi regular. ÉPOCA tentou falar com Pietro Harley Félix, mas ele não atendeu as ligações. Coriolano Coutinho trabalha na prefeitura de João Pessoa, como chefe da Empresa Municipal de Limpeza Urbana (Emlur). Assim como Félix, ele não respondeu às ligações. Alexandre Urquiza negou as irregularidades. “Não procedem as acusações. O pagamento foi feito a quem tinha poderes de recebê-lo”, diz Urquiza. “A procuração que consta do processo de licitação é a prova disso. Eles são sócios.” Gonçalves também nega a sociedade. “Como pode haver sociedade em empresa individual?”, afirmou a ÉPOCA. Urquiza também disputou a eleição de 2010. Ele fracassou na tentativa de ser deputado estadual, mas recebeu uma ajuda de R$ 6 mil da New Life. Segundo Gonçalves, a doação foi obra individual de Félix. “Eu nem sabia da existência dessa doação”, disse. Por enquanto, ninguém sabe responder onde estão os R$ 2,3 milhões pagos pela prefeitura de João Pessoa.

Jornalismo flertando com a literatura

No meio da mesmice e entre textos sem qualidade, respira a elegância de Lúcia Guimarães. Para quem não se lembra, ela fazia parte do Manhattan Connection antes do programa ser invadido pelos convidados atuais.

Estadão
14/11/2011
Lúcia Guimarães

Domingo no parque


Nos últimos dois meses, apesar da minha resistência a rotinas, dei para me repetir, às vezes, nos domingos. Carrego as baterias das câmeras e pego a linha 1 do metrô até a Rector Street. Enquanto caminho até o Zuccotti Park, sei que vários passageiros que saltaram comigo têm o mesmo destino. Alguns carregam cartazes enrolados. Outros têm a expressão de turistas subindo as escadas do Corcovado. Visitantes europeus emitem um ar satisfeito de aprovação. Japoneses temperam a modéstia com olhares arregalados. O que os passageiros desta linha do metrô aos domingos têm em comum? O que os aproxima dos moradores do acampamento?
Como é fácil para alguns, depois de algumas horas no parque, reduzir tudo ao capricho de desocupados, junkies e esquerdistas new age. Sim, alguns minutos confinada entre barracas são o bastante para registrar um aroma que combina a roupa não lavada com a escassez de higiene pessoal. E daí? Alguns minutos na esquina sudoeste ocupada pelos tambores são o bastante para sonhar com a bateria da Mangueira ou da Portela. E daí?
Alguns minutos de conversas desconexas com os sem-teto, desesperados para pertencer a uma ordem social que os expulsou, bastam para ceder à tentação de condenar as múltiplas versões do Ocupem ao rodapé da história. Mas, espere, quem é essa mulher de 56 anos que passa os dias tricotando na calçada norte do acampamento? Ela não discursa, apenas produz luvas, toucas e cachecóis para os acampados. Seu cartaz pede o fim das duas guerras, da pena de morte e um país melhor para seus seis netos. O que há de radical nessa expectativa?
E esse homem de terno que passeia pelo parque? É um analista que continua a trabalhar para uma instituição financeira mas, em 1999, foi ridicularizado e perseguido por escrever um relatório de mil páginas alertando investidores para venderem ações de bancos, depois de analisar o nível assustador de risco nos empréstimos da então crescente bolha imobiliária. Ele se declara um capitalista que gostaria de defender o capitalismo dos capitalistas americanos.
O problema está em tentar recolher sinais literais de transformação social entre as barracas cada vez mais fortificadas para enfrentar o inverno. Fazer comparações simétricas com o Tea Party à direita é outro desserviço. Nenhum grupo ligado ao Ocupem tem o apoio de conservadores como os bilionários irmãos Koch, que já doaram em torno de US$ 200 milhões para causas conservadoras.
Um comentarista comparou a lerdeza da mídia americana diante do movimento sem líderes à postura dos ditadores árabes expressando perplexidade com a varredura democrática da primavera. É um exagero. Mas vivemos em tempos de tags, categorias a tweets. Tudo deve ter seu encaixe digital e já.
Escrevo no Dia dos Veteranos, sob o impacto do suicídio de um ex-soldado de 35 anos. A polícia não divulgou seu nome, patente ou antigo posto, à espera de notificação da família. Ele se fechou numa barraca do acampamento Ocupem Vermont e apertou o gatilho. Um terço dos americanos que estão voltando para casa das duas guerras, no Iraque e Afeganistão, sofrem de alguma aflição psiquiátrica. O desemprego entre os veteranos é 30% mais alto.
No empurra-empurra resultante da presença dos músicos David Crosby e Graham Nash no parque, na última terça-feira, eu me separei do cinegrafista e fui me embrenhar com uma câmera pelas barracas, à caça de uma foto que registrasse, naquela tarde, o encontro dos anos 60 com a rebeldia dos millenials, como são chamados os jovens de menos de 30 anos. Ao tentar pular um pequeno canteiro, fui alertada por um habitante do parque: "Não se atreva a pisar nas plantas!" Um punhado de flores quase secas eram testemunhas do avanço do outono. Meu censor sabia que estava brigando por poucas pétalas. E eu sabia que ele estava defendendo mais do que o canteiro. Ele queria que eu pisasse no parque com um novo respeito.

domingo, 13 de novembro de 2011




Notícia do estadão sobre a ocupação da Rocinha no Rio de Janeiro descreve a casa do traficante, mas não mostra nenhuma imagem nem explica a ausência.

Estadão
13/11/2011
Alfredo Junqueira

Traficante morava em mansão cercada por barracos
O Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (Bope) descobriu na manhã deste domingo, 13, a casa de Sandro Luiz de Paula Amorim, o Peixe, um dos cinco traficantes presos na última quarta-feira, quando tentavam escapar da Rocinha escoltados por três policiais civis e dois policiais militares. A mansão de três andares está repleta de equipamentos novos e caros. Fica cercada por barracos e casas humildes na cercanias da Rua 2, no alto da comunidade.

Ex-chefe do tráfico de drogas do Complexo de São Carlos, no centro do Rio, Peixe tinha piscina, equipamentos de musculação, churrasqueira, um aquário com mais de dez peixes, cozinha completa (com eletrodomésticos em inox) e equipamentos de TV e vídeo de última geração. No quarto há uma banheira de hidromassagem, ar-codicionado e muita bebida alcoólica.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Denuncismo não é jornalismo investigativo – Parte III


Jornalista questiona os métodos e o compromisso da Veja com a verdade.


Observatório da Imprensa
1º/11/2011
Sujeira não limpa sujeira

Veja derrubou Orlando Silva com uma matéria em que um ex-militante do PCdoB acusava o ex-camarada, então ministro do Esporte, de receber propinas em dinheiro, numa garagem em Brasília.
A denúncia do ex-policial militar João Dias carecia de provas e Veja sabia disso. Mesmo assim serviu-se das aspas, valorizou-as espetacularmente, deixando em segundo plano todas as falcatruas com as ONGs que, aliás, já haviam sido noticiadas e vinham sendo investigadas há tempos pelas autoridades.
O ministro do Esporte foi obrigado a demitir-se porque a Procuradoria Geral da República pediu a abertura de um inquérito e o Supremo Tribunal Federal autorizou-a. A investigação relaciona-se com as falcatruas e não com o recebimento de propinas. Depois da defenestração do ministro, seu acusador confessou à imprensa que desistiria de procurar as provas. Ninguém o cobrou por isso. Nem o semanário sentiu-se na obrigação de sequenciar o episódio.
Garantia de veracidade
Depois de divinizar o jornalismo investigativo como modalidade superior, exclusiva de uma tropa de elite, nossa imprensa está conseguindo avacalhá-lo com procedimentos abusivos. O uso de denúncias explosivas e espetaculares – não comprovadas e não comprováveis – para alavancar outras menos apelativas é um recurso chinfrim, maroto. Cria precedentes perigosos, estimula a criação de uma categoria de agentes provocadores e arapongas que vivem nos corredores do poder – sobretudo em Brasília – bicando tetas ou praticando extorsões.
Para sanear nossa vida pública convém utilizar procedimentos jornalísticos inquestionáveis. Aspas são garantias de veracidade, forjá-las sem comprovação é velhacaria.
Sujeira não limpa sujeira.

A Indisposição do Estado de São Paulo, ou olha o tamanho da minha barriga.

O Jornal erra feio e se justifica dizendo que o Governo recuou. Seria mais honesto se o jornal tivesse reconhecido o erro. Após 

ESTADÃO
1º/11/2011

Enem: MEC pressiona AGU, governo muda de ideia e vai recorrer de anulação de questões

BRASÍLIA - Pressionado por setores do Ministério da Educação (MEC), o governo mudou de ideia e decidiu, na tarde desta terça-feira, recorrer da decisão da Justiça Federal no Ceará que anulou 13 questões do Enem. Pela manhã, a disposição do governo era a de não apresentar recursos para evitar uma intensificação da batalha judicial em torno do exame. Mas no início da tarde, devido às pressões, a Advocacia-Geral da União (AGU) anunciou que encaminhará um recurso para tentar derrubar a decisão que anulou questões do Enem.
O recurso será protocolado na quinta-feira, 3, no Tribunal Regional Federal (TRF) da 5.ª Região, sediado em Recife. De acordo com a AGU, a iniciativa tem o objetivo de evitar que alunos que fizeram o Enem sejam prejudicados.