Nelsinho
Motta tem todo o direito de manifestar sua opinião sobre qualquer assunto, mas
errou feio na escolha da metáfora e ao nivelar um princípio fundamental
do direito, o devido processo legal, com o que ele chama de “as formalidade do
barroco latino-americano”.
Estadão
30/06/2012
Nelson
Motta
A
regra é clara: cartão vermelho
Certos
jogos de futebol são tão ruins que parecem intermináveis, quando os
comentaristas dizem que os dois times poderiam continuar jogando a noite
inteira que não sairiam do 0 a 0. A metáfora de sabor alulado é perfeita para
expressar a destituição de Fernando Lugo da Presidência do Paraguai, mas não
pela legalidade ou velocidade com que foi goleado por 76 a 1 no Congresso e
depois no Tribunal Eleitoral e na Suprema Corte: na Constituição deles a regra
é clara.
Mas caso
os paraguaios resolvessem instaurar uma comissão de impeachment, cumprindo
todos os ritos e formalidades do barroco latino-americano, como
exigem os democratas Chávez, Cristina e Correa, até os paralelepípedos das ruas
de Ypacaraí sabem que eles poderiam ficar num diálogo de surdos meses a fio,
como num jogo ruim de futebol, que o resultado final não seria diferente.
Então,
por que perder tempo e dinheiro e parar o país? Para ouvir estrangeiros dando
pitaco nos problemas dos paraguaios, alguns até dispostos a dar dinheiro e
armas para os "movimentos sociais" defenderem Lugo numa guerra civil?
Em time que está perdendo não se mexe?
Até seus
parcos partidários sabem que Lugo se embananou, tanto que entubou resignado a
sua destituição ao vivo, diante de todo o país. Além da gestão desastrosa, Lugo
decepcionou seu eleitorado popular desenvolvendo uma paixão por hotéis cinco
estrelas e restaurantes de luxo em suas frequentes viagens ao exterior, no
mínimo uma por mês, sempre com festivas comitivas, para agendas duvidosas.
Descontente com o desconforto da primeira classe nos voos comerciais, tentou
que a Itaipu Binacional lhe comprasse um Aerolugo da Embraer, mas a diretoria
cortou suas asas. Negociava um Challenger usado de um cartola do futebol quando
foi defenestrado.
O que a nossa diplomacia companheira vai fazer
agora, além de estender o tapetão para a entrada da Venezuela no Mercosul? Vão
obrigar o Paraguai a desrespeitar ou a mudar a sua Constituição? Vão dar ao
novo governo direito de defesa na Unasul? Ou vão dar um chapelão a Lugo e
abrigá-lo na Embaixada do Brasil em Assunção?