sexta-feira, 6 de julho de 2012

Entre a insensatez e a leviandade


Colunista do Estadão extrapola o bom senso ao criticar as pesquisas que medem a aprovação dos últimos presidentes do Brasil. Duvidar delas é dever de ofício do jornalista, mas isto deve ser feito tecnicamente e não com argumentos pueris. Outra opção é entender o que elas revelam, mas isto seria jornalismo. Não é este o caso.


Estadão

06/07/2012

Augusto Nunes


Ainda convalescendo da vaia em São Bernardo do Campo, Dilma Rousseff voltou a ouvir no Rio de Janeiro, nesta sexta-feira, o mais desconcertante dos protestos sonoros. O neurônio solitário deve estar pálido de espanto com o enigma. No fim de junho, uma pesquisa do Ibope informou que apenas 8% dos brasileiros reprovam o desempenho da presidente. E comunicou à nação que o recorde estabelecido pela chefe de governo colocou Dilma Rousseff à frente de todos os seus antecessores desde a Proclamação da República.

Como combinar as duas informações do Ibope com duas vaias em dois dias? Se o preço da encomenda for suficientemente estimulante, qualquer comerciante de porcentagens conseguirá decifrar o enigma com uma pesquisa restrita aos participantes das manifestações. Ficará provado que tanto no Rio quanto em São Bernardo os atos de protesto juntaram os mesmíssimos 8% de eternos descontentes.
Como são poucos, esses inimigos da pátria resolveram fantasiar-se de estudantes para desmoralizar a UNE, piorar o humor da presidente e, sobretudo, reduzir os lucros dos fabricantes de estatísticas com a invenção de outra brasileirice: a vaia ambulante. A pesquisa reanimaria Dilma Rousseff com a descoberta de que a vaia do Rio saiu das mesmas gargantas que se esgoelaram em São Bernardo.
Mas convém apressar o serviço. Se o bando de manifestantes continuar comparecendo às aparições públicas da recordista, e a temporada de protestos estender-se até o ínício do julgamento do mensalão, nem os milicianos do PT acreditarão nos rankings dos campeões de popularidade montados pelos sensus, ibopes e voxpopulis do Brasil Maravilha. Em todos, o primeiro colocado é sempre quem está no poder.

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