Veja
26.05.12
Fábio
Altman, de Singapura
Em 11 de
maio, uma semana antes da abertura de capital do Facebook na bolsa de valores
das empresas de tecnologia, a Nasdaq, o blog Bits, do New
York Times, cometeu um erro antológico. Ao fim do texto — "Um
fundador do Facebook renuncia à cidadania americana", informava a chamada
—, vinha a constrangedora e necessária confissão do risível equívoco: "Uma
versão anterior deste texto incluía uma foto publicada erroneamente; ela
mostrava Andrew Garfield, o ator que interpretou Eduardo Saverin no filme A Rede Social, e não o próprio Saverin".
Quem recorda a derrapada do jornalão nova-iorquino, lembrança atrelada a um
sorriso de Gioconda, incapaz de fazer aparecer os dentes, quase envergonhado, é
o próprio Eduardo Saverin. Ele vive uma curiosa condição — a de precisar
comprovar, em seu discreto cotidiano de Singapura, onde mora desde 2009, que
não é como o personagem do filme e que Garfield, o próximo Homem-Aranha das
telas, pode até interpretar muito bem, mas o Saverin de Hollywood nada tem a
ver com o Saverin real. "Aquilo é Hollywood, não é documentário",
diz, com o sotaque que mistura a típica toada paulistana de quem viveu no
Brasil até os 10 anos com o inglês de quem cresceu em Miami, formou-se em
Harvard e ficou bilionário por estar no centro de uma das mais espetaculares
criações de nosso tempo: o Facebook, de quase 1 bilhão de curtidores e valor de
mercado próximo aos 100 bilhões de dólares. Saverin é o sócio número 2 desse
clube (cujo primeiro endereço foi registrado na casa dos pais do brasileiro em
Miami, ainda como Thefacebook, em 2004), atrás apenas de Mark Zuckerberg. O
resto é história.
Ressalte-se
que o próprio Saverin contribuiu para o embaralhamento público de seu ego com o
alter ego do cinema. Avesso a qualquer contato pessoal que exclua amigos de
confiança — "no Facebook não gosto de exibir minha privacidade", diz
—, ele tem sido um grande mudo, incapaz de meter seu nariz adunco e as calças
Diesel de modelo rasgado onde não é chamado, desde que foi passado para trás
por Zuckerberg, recorreu à Justiça, reconquistou o direito de ter quase 5% de
ações da empresa (o equivalente a 5,8 bilhões de dólares, talvez um pouco
menos, com a oscilação para baixo dos papéis na Nasdaq) e seu nome devolvido ao
rol de fundadores. Não falou por imposição de contrato e simplesmente porque
não queria falar, protegido pela timidez. É uma fase que termina agora. Saverin
recebeu VEJA com exclusividade. Ao contar parte de sua trajetória, a verdade
vista por quem a viveu, demole alguns dos mitos que o cercam.
É verdade
que a família Saverin deixou o Brasil, em 1992, porque tinha sido incluída numa
lista de possíveis vítimas de sequestradores? Não. Aqui quem recorda é o pai,
Roberto Saverin, dono de uma companhia exportadora de remédios em Miami.
"Sempre quis morar nos Estados Unidos, era um sonho que decidi alimentar
porque o Brasil estava em crise, o Collor tinha congelado a poupança, não
estava nada fácil", diz. Roberto migrou para fazer a América com a mulher,
psicóloga, e três filhos — Eduardo, uma irmã dois anos mais velha que ele e um
irmão, o primogênito. Foi somente alguns anos depois, já nos Estados Unidos,
que Roberto soube que Eugênio Saverin, seu pai, judeu romeno que montou no
Brasil uma das mais conhecidas lojas de roupas infantis de São Paulo, a Tip
Top, aparecera numa lista de supostos sequestráveis.
É verdade
que Saverin arremessou um notebook em cima de Zuckerberg, como aparece numa das
melhores cenas de A Rede Social? Não. "Jamais
faria isso, muito menos com o Mark", assegura, e cinco minutos de
convivência com sua calma etérea indicam ser muitíssimo improvável, para não
dizer impossível, que ele reagisse daquela maneira. É verdade que Saverin leva
vida de príncipe árabe em Singapura, rodeado de mulheres e festas nababescas
regadas a Moët & Chandon? Não, nada além do que seus 30 anos e o dinheiro
autorizem.
Quanto às
mulheres, sabe-se de uma única, a namorada nascida na Indonésia que lhe ensinou
a arte de tirar os sapatos antes de entrar em casa e cuja personalidade
retraída emparelha com a do brasileiro. É verdade que ele vive no prédio mais
alto de Singapura, debruçado para o Oceano Pacífico emoldurado por uma
cordilheira de arranha-céus modernosos? Não. Saverin muito recentemente deixou
o apartamento que dividia com um amigo americano para morar sozinho em um
bairro um pouco mais afastado do burburinho. É um condomínio de luxo, sim — uma
penthouse foi vendida ali no início de maio pelo equivalente a desavergonhados
e quase inacreditáveis 27 milhões de reais —, mas perfeitamente compatível com
sua fortuna, construída a partir do sucesso do Facebook (ainda que a derrapagem
das ações tenha lhe subtraído 230 milhões de dólares em uma semana), e com o
padrão altíssimo de Singapura.
Um dos
quartos do apartamento serve de escritório. Saverin não tem secretária. São
três monitores Mac de 27 polegadas que dividem a atenção com um iPhone e um
iPad, permanentemente acessados. A partir desse conjunto eletrônico ele dispara
pedidos de compra de ações e investimentos com conselheiros e advogados na
Ásia, na Europa e nos Estados Unidos — um deles é seu irmão. A diferença de
fuso horário de Singapura para o resto do mundo o faz trabalhar até dezesseis
horas por dia. Viaja muito, às vezes quatro vezes por mês, a ponto de saber de
cor horários de voos e quando o vento sopra a favor ou contra as aeronaves. Uma
das telas de computador está sempre ligada em sites e programas de estudo e
simulação de furacões, tsunamis e derivados. É interesse que vem da infância,
quando olhava para as nuvens. Em algum momento ele chegou a ganhar dinheiro em
mercados futuros de commodities afetadas pelas intempéries da natureza. Não
mais, agora é apenas o prazer científico, só comparado a sua paixão pelo
xadrez, também trazida lá de trás. Os pais lembram-se do dia em que Saverin,
então com 13 anos, ganhou uma partida de um mestre internacional em Orlando.
Foi um feito tão fora da curva que virou notícia de uma revista da Associação
Internacional de Xadrez. Quando estava prestes a dar o xeque-mate, ele se virou
para a mãe, Sandra, e pediu licença: "Acho que vou ganhar, será que vai
pegar mal?". Ante a aquiescência materna, encurralou humildemente o
adversário.
Saverin
age como quem joga xadrez — tenta antever o que virá depois, em lances ora
agressivos, ora cautelosos. Dos pais e de Harvard aprendeu que errar muito é o
caminho mais curto para acertar, mesmo pouco. Negociador, é nato. Antes de ir
para os Estados Unidos, pré-adolescente, vendeu um videogame para um amigo, com
quem também dividia o fascínio por Michael Jackson, mas disse ao pai que só
embarcaria se ganhasse outro. Levou o que pediu e, de quebra, foi presenteado
com um micro Packard Bell, seu primeiro. "Hoje tenho investido como
louco", diz. Pôs dólares em dezenas de empresas dos Estados Unidos, Europa
e Ásia como investidor-anjo, figura nascida no Vale do Silício. Algumas já
andam bem. Quer entrar no Brasil, "porque está em meu coração, sou
brasileiro, é o lugar onde nasci", mas ainda não descobriu uma boa janela.
Recentemente, em trocas de e-mails, esbarrou em mensagens copiadas para Eike
Batista — mas essa ainda não é sua porta de entrada brasileira. Não quer
minérios, a não ser que tenha alguma relação com silício, com tecnologia.
Insistente, tenta achar um novo Facebook.
Mas onde
ele está? "Na área de tratamento de saúde, acho", afirma. Ao amigo
com quem dividia o apartamento, com quem compartilhou o quarto em Harvard no
tempo da gênese do Facebook e com quem deu a volta ao mundo em 2009 até parar
em Singapura (o.k., não eram mochileiros), entregou 500 000 dólares para os
primeiros passos de uma empresa, a Anideo, que já faz games de sucesso e um
agregador de vídeos. "Naquele tempo do começo do Facebook, eu jogava
beisebol e tinha namorada, estava perto fisicamente mas longe no negócio, aí
não fiquei rico", brinca Andrew Solimine, o segundo Andrew mais importante
da vida de Saverin. O primeiro é o furacão Andrew, que em agosto de 1992 passou
por Miami, devastador. "Fiquei fascinado, e, tendo já alguma informação
científica, consegui ir até o olho do furacão, literalmente", conta
Saverin.
Olho do
furacão que não se compara, em força, ao vivido nas duas últimas semanas,
depois que a imprensa divulgou sua renúncia à cidadania americana, supostamente
para evitar os 15% de impostos sobre ganhos de capital — taxa que inexiste em
Singapura e lhe poupou pelo menos 67 milhões de dólares. Acusaram-no até de
ingrato e traidor, por não devolver aos Estados Unidos o que os Estados Unidos
lhe deram. Saverin nega que tenha fugido do leão do imposto. "A decisão
foi apenas baseada no meu interesse em trabalhar e viver em Singapura",
diz. "Sou obrigado e pagarei centenas de milhões de dólares em impostos ao
governo americano. Paguei e continuarei a pagar as taxas devidas sobre tudo o
que ganhei enquanto fui cidadão dos Estados Unidos." O pai, Roberto, a
quem Eduardo tem como ídolo e mentor, revela novos detalhes dessa escolha:
"Foi duro também para mim, que construí nova vida nos Estados Unidos,
quando o Eduardo disse que teria de renunciar à cidadania. Fez isso não
exatamente porque quisesse, mas porque não tinha alternativa, vivendo em
Singapura. Toda movimentação financeira lá é mais restrita e burocratizada
quando se tem o passaporte americano. Não havia outro caminho". E nos
Estados Unidos, admite o pai, sobretudo depois do IPO do Facebook, "seria
muita pressão para ele".
Saverin
tende sempre a contemporizar, porque é de sua índole, mas também porque não é
bobo, e uma palavra fora de lugar pode retornar como um bumerangue. Instado a
comentar um dos e-mails enviados por Mark Zuckerberg a outro cofundador do
Facebook, Dustin Moskovitz, revelado há poucos dias, Saverin não pisca nem mexe
as grossas sobrancelhas, revelando algum incômodo. Escreveu Mark, em 2005:
"Ele deveria criar a empresa, obter financiamento e fazer um modelo de
negócios. Falhou em todos os três. Agora que eu não vou voltar para Harvard,
não preciso me preocupar em ser espancado por bandidos brasileiros". A
resposta de Saverin, agora: "Só posso falar bem do Mark, não tenho
ressentimento algum; é admirável o foco dele desde o primeiro dia até hoje —
foi um visionário, sempre soube que o Facebook só cresceria se mantivesse a ideia
central, a de as pessoas se apresentarem verdadeiramente, sem pseudônimos. é a
grande força do Facebook, o que permitiu transformá-lo em um instrumento de
protesto, como no Egito, mas também de negócios, além do contato natural com
amigos".
Personagem
decisivo da ainda jovem trajetória das redes sociais, Saverin ensaia outro
pulo, o dos meios de pagamento eletrônicos — cerne de alguns de seus
investimentos mais pesados, entre eles uma extraordinária ideia de doação para
entidades beneficentes do México por meio de cartão de crédito, sem burocracia.
"O Eduardo não apenas é cofundador, mas também investidor e membro do
board do negócio", diz Aldo Alvarez, o CEO do Aporta — eis o nome da
inovação. "Ele não apenas entrou com o dinheiro crucial para iniciarmos a
operação como contribuiu com um conhecimento tecnológico extraordinário."
Sempre
modesto, Saverin parece não admitir a grandeza do que ajudou a erguer — o
Facebook, ou Fakebook, depois das confusões acionárias da semana passada - e
daquilo em que se transformou, globalmente. Acha que tem o gene do
empreendedorismo porque o herdou dos avós. "Todos, sempre, acabamos
fazendo alguma coisa", resume. Os pais conhecem essa admiração de Saverin
pelo passado da família. Na semana passada, enviaram um e-mail para o filho. Ele
resume, a um só tempo, esse olhar em busca das brechas de oportunidades —
típico de Eugênio Saverin, o tecelão da Tip Top, o avô do Facebook — e o jeitão
típico de uma família brasileira que foi para os Estados Unidos e viu o filho
encaminhar fenomenais mudanças planetárias. Diz a mensagem, atrelada a uma
foto: "Dudu. Seu avô Eugênio recebeu do então presidente da República,
Fernando Henrique Cardoso, em 29 de maio de 2002, o título de Oficial da Ordem
de Rio Branco, um título muito prestigioso que só é dado a pessoas que
contribuíram para o desenvolvimento e o progresso do Brasil. Beijos, papai e
mamãe". Dudu já tem uma vida cheia de história — e, no entanto, nasceu
apenas em 1982, na franja da grande virada iniciada por Steve Jobs e Bill Gates
e que culminaria na rede social de Mark Zuckerberg e Eduardo Saverin, rede que
do início ao fim da leitura desta reportagem terá recebido 29 milhões de
"curtir".
El Pais
26.05.2012
Víctima o villano de Facebook?
Lo que
en Estados Unidos es un multimillonario más, en Singapur es todo un playboy. Eduardo Saverin renunció a la
nacionalidad estadounidense días antes de que Facebook, la empresa que ayudó a
fundar en la Universidad de Harvard, pasara a cotizar en Bolsa. Su fortuna,
meramente una fracción de lo que hubiera sido si su amistad con Mark Zuckerberg
no se hubiera roto cuando Facebook comenzaba a ser popular, se estima ahora en
3.000 millones de dólares (2.372 millones de euros). Con ella, se ha mudado a
Asia, a vivir a lo grande, mientras una gran parte de Norteamérica le mira como
un traidor, huido para no pagar impuestos.
Es
cierto que Saverin, de 30 años, multimillonario número 634 del mundo según la
lista elaborada por la revista financiera Forbes, se ha ahorrado al menos 67 millones de
dólares (unos 53 millones de euros) en impuestos al renunciar a ser
estadounidense y quedarse con un pasaporte de Brasil y un lujoso apartamento en
un exclusivo rascacielos en la ciudad-Estado de Singapur, refugio de ricos
apátridas del mundo entero. Por ello en Washington se considera a Saverin un
evasor de impuestos. Hasta el punto de que dos senadores demócratas en el
Capitolio, Chuck Summer y Bob Casey, le han pedido a la Casa Blanca que le
prohíba la entrada a EE UU en el futuro.
La
familia de Saverin vive en Miami, y en Facebook él mismo identifica esa ciudad
como su hogar. Y pocas ciudades pueden competir con Miami en el apartado de
apartamentos opulentos, coches lujosos y bares frecuentados por famosos. Pero
Saverin ha elegido ahorrarse esos 67 millones de nada y vivir en Singapur.
Allí
es toda una celebridad, más famoso, por supuesto, que Zuckerberg, y perseguido
por admiradores y cazafortunas de toda procedencia. Se deja ver en clubes de
moda, posa para fotos con aspirantes a Miss Singapur y aparece en encuentros de
fórmula 1. Es el rey brasileño de la noche singapurense.
“Es
una desgracia que mis decisiones personales se empleen para el debate público,
no sobre la base de los hechos, sino únicamente con especulaciones y
desinformaciones”, ha dicho Saverin en un comunicado difundido recientemente a
los medios. “Nacido en Brasil y emigrado a EE UU, le estoy muy agradecido a EE
UU por todo lo que me ha dado. En 2004 invertí los ahorros de mi vida en una
nueva compañía que se creó en una habitación de un colegio mayor. Desde
entonces, esa empresa se ha expandido de forma dramática y ha creado miles de
puestos de trabajo en EE UU y otros lugares”.
Cuando
Saverin se mudó a Singapur, en 2009, se esperaba de él una gran inversión, un
innovador proyecto, una nueva empresa que le sirviera de reivindicación. Al fin
y al cabo era famoso por ser el cofundador agraviado de Facebook, el joven
honesto y bondadoso desbancado por Zuckerberg y su nuevo
socio, Sean Parker, el fundador de Napster. Ese era, al menos, el
argumento del libro Multimillonarios por accidente, del
escritor Ben Mezrich, y su adaptación fílmica, la oscarizada
película La red social.
En
2010, el portal TechCrunch publicó una
noticia sobre su cambio de residencia. La periodista Sarah Lacy le
atribuía la intención de entrar en el negocio de los juegos online para Facebook: “Saverin está
manteniendo un perfil bajo, intentando construir algo propio y evitando los
focos cinematográficos que su versión de los hechos ayudó a crear. Le doy
crédito por ello. Será emocionante ver qué juegos acaba creando para la plataforma
que parece haberle ocasionado tanto dolor y que le convirtió en multimillonario
y famoso”.
En
Harvard conoció a un hombre con un proyecto, el joven y retraído Zuckerberg. Le
dio fondos para arrancar su proyecto de red social. Pagó por sus servidores. Y
se dedicó a buscar anunciantes. Todo aquello le daría derecho, inicialmente, a
un 34,4% de las acciones de la compañía, luego diluidas notablemente por
Zuckerberg y Parker, hasta por debajo de un 10% primero y a cantidades mucho
menores después.
Saverin
demandó a Zuckerberg, y ambos llegaron a un acuerdo extrajudicial, que
conllevaba un acuerdo de confidencialidad. A pesar de este, hay analistas que
han apuntado a Saverin como una de las principales fuentes en la sombra de
Mezrich y su best-seller, dado el detalle con que narra sus
experiencias y sentimientos en el libro. Según dijo el bloguero Nicholas
Carlson en una
célebre entrada en Business Insiderde 2010, el libro “es la historia de cómo
Eduardo se enfadó con Mark y de cómo, desde el punto de vista de Eduardo, Mark
le jodió con una buena parte de las acciones de Facebook”.
Tanto
en el libro como en la película, Saverin queda retratado como una víctima de la
crueldad y la indolencia de Zuckerberg. Era el estudiante aplicado que, al
contrario que Zuckerberg, sí acabaría sus estudios,magna cum laude. Era el prometedor hombre de negocios,
presidente de la Asociación de Inversores de Harvard, que trabajaría como
becario en las oficinas de Lehman Brothers en Nueva York. Era el joven
agradable y por todos querido, aceptado en el exclusivo club Phoenix de Harvard.
De
él escribe Mezrich, cuando narra un viaje a California en el que se da cuenta
de las posibilidades de crecimiento de Facebook: “A Eduardo no le importaba
estar en un discreto segundo plano, aquí en California. No había entrado en ese
negocio por la fama. No le importaba si la gente sabía que él también había
estado en aquel dormitorio [en el que se creó Facebook], o si sabía que era
dueño de más del 30% de la empresa, que era la persona con más
responsabilidades sobre un millón de usuarios, aparte de Mark. Solo le
importaba que a esa gente le gustara el sitio web”.
Zuckerberg
ha mantenido, durante estos años, un sepulcral silencio sobre su relación con
Saverin. Ha capeado el libro y la película con estoicismo. Eso ha contribuido,
en cierto modo, a que la historia que se ha contado sobre los orígenes de
Facebook haya sido la de Saverin. En la saga novelesca y cinematográfica,
Zuckerberg crea Facebook con los fondos de Saverin. Mientras, traiciona en
secreto unos compromisos adquiridos con los
apuestos gemelos Cameron y Tyler Winklevoss, con los que había llegado a un
acuerdo para crear una red social. Cuando Facebook resulta un éxito,
Zuckerberg traiciona por segunda vez, en este caso a su gran amigo Saverin.
Si
Zuckerberg contara la historia, lo haría seguramente de un modo diferente. En
septiembre de 2010, coincidiendo con el estreno de la película, aparecieron en
el portal online Tech Crunch algunos correos personales
del creador de Facebook. En uno, de 2004, dirigido a otro confundador de la
red, Dustin Moskovitz, expresaba su verdadera opinión sobre Saverin: “Sigo
manteniendo que se jodió a sí mismo… Se suponía que debía comenzar la empresa,
ganar financiación, crear un modelo de negocio. Fracasó en esas tres cosas…
Ahora que sé que no volveré a Harvard, no me tengo que preocupar por si me dan
una paliza los matones brasileños”. A ojos de Zuckerberg, era más un
aprovechado, y un lastre, que un amigo.
Saverin
no se mudó a California cuando el resto de la empresa lo hizo, a principios de
2004. Se dedicó a avanzar su carrera en Nueva York, dejando que la red social
creciera al margen de su influencia. Zuckerberg nunca se licenció, pero llevó a
Facebook hasta elevadas cotas de éxito, con la apoteosis de la salida a Bolsa
de este mes. Con él fueron a California sus dos compañeros de habitación en el
colegio mayor. Moskovitz fue el tercer empleado de Facebook, su jefe
tecnológico y vicepresidente de desarrollos de ingeniería, hasta que
abandonó la empresa en 2008. Chris
Hughes fue el primer jefe de prensa, y volvió a Harvard para licenciarse y para
pasar a trabajar en la estrategia de redes sociales de Barack Obama.
De
momento, poca cosa. Saverin ha inyectado algunos millones a algunas nuevas
empresas de la Red, como Shopsavvy, un comparador de precios; Qwiki, un portal
social para compartir vídeos, y Jumio, para hacer pagos a través de la
tecnología móvil. Esas inversiones suponen menos de un 1% de lo que ahora es su
fortuna, según estimaciones de los analistas. No hay grandes proyectos ni ideas
brillantes. Saverin vive la vida de unplayboy.
En
Singapur conduce un Bentley, un coche de lujo que viene a costar alrededor de
200.000 dólares. En una noche de diciembre pidió en un local seis litros de
vodka Belvedere y 20 botellas de champán de la marca Cristal, según el diario The New
York Post. Los
diarios y revistas de Singapur le muestran con frecuencia rodeado de chicas
hermosas, de grandes sonrisas y cortos vestidos.
En
el libro Multimillonarios por
accidente se le
atribuye a Saverin una temprana predilección por las mujeres asiáticas. “No es
que los chicos como yo se sientan atraídos, normalmente, por las mujeres
asiáticas. Es que las mujeres asiáticas se sienten generalmente atraídas por
chicos como yo. Y si intento optimizar mis posibilidades de triunfar con la
mujer más atractiva, tengo que pescar entre los grupos que puedan estar más
interesados en mí”, dice.
El interesado, poco
dado a prodigarse en los medios, ha intentado contener recientemente la
indignación provocada por su renuncia al pasaporte estadounidense, que tuvo
durante 10 años. Primero, ha actualizado la foto de cabecera en su perfil de
Facebook con una captura de pantalla de los primeros días de la red social, en
la que firma como cofundador, con el adjetivo de “brasileño”. Luego, ha dado
algunas entrevistas a unos pocos medios de EE UU. Al diario The New York Times le ha
dicho: “Es todo falso, especialmente lo de que soy unplayboy. Es
cierto que tengo un Bentley. Es cierto que salgo. Pero es mejor que no entre en
detalles personales”. Y
¿cómo se define? “La gente siempre trata de convertirte en un símbolo de algo.
Si trabajas en un banco, eres un banquero. En mí ven un cofundador de
Facebook”. Así ha sido durante años. Y puede que así sea para siempre.