domingo, 30 de outubro de 2011

O linchamento midiático segundo Ombusdman da Folha de S.Paulo.

Como já disse antes, denuncismo não é jornalismo

FOLHA DE SÃO PAULO
OMBUDSMAN
Por Suzana Singer

Pega, Mata e Come
E já se foram seis. Pelas mãos da imprensa, os titulares da Casa Civil, Transportes, Defesa, Agricultura, Turismo e Esporte deixaram suas pastas apenas neste ano. Sinal de pujança da mídia ou de execração pública desenfreada? A verdade está no meio do caminho.
Não há como negar o bom trabalho de jornais e revistas -especialmente o da Folha e o da “Veja”- na revelação de falcatruas com o dinheiro público, de enriquecimento suspeito ou de vaidade extremada (caso de Nelson Jobim). De motel pago com diárias do governo federal a convênios-fantasmas para atender crianças carentes, apareceram vários motivos para a “faxina” de Dilma Rousseff.
O último varrido do poder foi Orlando Silva, que, na quarta-feira, depois de 11 dias seguidos de protagonismo no noticiário político, sucumbiu. Não há dúvida de que, no mínimo, uma série de irregularidades germinava no Ministério do Esporte, o que pode ser considerado motivo suficiente para trocar o titular.
Mas, no afã de dar o último tiro, atropelou-se várias vezes o bom jornalismo. No dia 18, na esteira do UOL, a Folha e seus concorrentes publicaram reportagens sobre a compra de um terreno em Campinas pelo ex-ministro. Ressaltou-se o montante pago à vista: R$ 370 mil, o que não é uma cifra astronômica para um funcionário público no topo da carreira e que afirma não ter outros imóveis.
Levantava-se também a suspeita de que a Petrobras viesse a favorecer Orlando Silva, retirando da área dutos de gás que passam por ali. A estatal nega qualquer intenção desse tipo. Nada havia, portanto, a denunciar -ou seja, nada que merecesse ser publicado. A praga do “linchamento midiático” atacou de novo quatro dias depois, quando a manchete da Folha trazia mais uma acusação: “Esporte cobrou 10% de propina, afirma pastor”. O denunciante, filiado ao PP, dizia que funcionários do Ministério do Esporte o procuraram para pedir propina depois que um convênio da sua ONG foi aprovado.
O entrevistado não apresentou provas e tinha muitos motivos para ter raiva: as contas de sua entidade foram rejeitadas, e a renovação do contrato com o governo, indeferida. O mesmo poderia ser dito do policial João Dias, que desencadeou a fritura de Orlando Silva, mas ele tinha acesso à cúpula do ministério, citava vários nomes e apresentou depois gravações.
Se dependessem de fontes idôneas, os repórteres estariam em maus lençóis. A maioria dos malfeitos emerge de interesses contrariados, quase sempre de aproveitadores do erário em surtos momentâneos de cidadania. Isso não pode ser álibi, porém, para estender o microfone a qualquer um que levante a voz contra os políticos.
Anteontem, a precipitação ”denuncista” se manteve com a história de que Apolinário Rebelo, irmão do novo ministro, Aldo Rebelo, foi citado como beneficiário de um suposto esquema de desvio de dinheiro. Era outra acusação, sem provas, do policial falastrão, que merecia um registro, mas nunca o destaque dado: foi o texto principal em uma página de Poder e ocupou, por horas, a manchete da Folha.com.
É preciso cuidado com a cultura do escândalo. Acusação baseada em uma só fonte, sem documentos, é o início do trabalho do repórter, não o seu fim -mesmo no noticiário político, onde, infelizmente, se atira a esmo e se acertam mais corpos do que se esperava.

Jornalista toca o terror na rádio que toca notícia.

CBN
30/10/2011

Lúcia Hipólito erra a mão em comentário infeliz sobre a doença de Lula.

Link para o exercício de mal gosto:

sábado, 29 de outubro de 2011

Comparar é preciso

Leiam abaixo as matérias da Veja, do Estadão e da Carta Capital a respeito da ocorrência policial na USP. A primeira faz alguma coisa que não podemos chamar de jornalismo.


Veja
29/10/2011


Os tumultos causados pelos rebeldes sem causa da USP

“Os policiais não são trabaliadores, são o braço armado$ dos exploradores”. A foto do cartaz com erros de português – ao lado de rapazes com o tronco à mostra e os rostos cobertos por camisetas – poderia ter sido tirada em alguma rebelião da Febem. Não foi. Quem aparece nas imagens são estudantes da Universidade de São Paulo (USP), uma das 100 melhores instituições de ensino superior do mundo.

As cenas de fúria do bando de jovens se atracando com policiais militares e os gritos de “fora a imprensa golpista” berrados da janela do prédio transformado em bunker da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), poderiam ter sido pinçadas de um documentário sobre as manifestações estudantis contra a ditadura militar. Não foram – embora os manifestantes pareçam decididos a acreditar que continuam estacionados em 1968. Ao mesmo tempo em que o retrocesso pairava sobre a USP, a Universidade de Brasília (UnB) dava um exemplo de evolução. Nesta quinta-feira, a Aliança pela Liberdade, única chapa que não era composta por militantes profissionais, alimentados com recursos de partidos políticos, venceu a eleição para o Diretório Central dos Estudantes (DCE). As propostas da nova diretoria passam longe da reforma agrária, da destruição do capitalismo global ou da defesa de Fidel Castro. Suas bandeiras são o aumento da segurança, o incentivo a parcerias com fundações privadas e a melhoria na gestão da burocrática instituição de ensino.


As cenas de fúria do bando de jovens se atracando com policiais militares e os gritos de “fora a imprensa golpista” berrados da janela do prédio transformado em bunker da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), poderiam ter sido pinçadas de um documentário sobre as manifestações estudantis contra a ditadura militar. Não foram – embora os manifestantes pareçam decididos a acreditar que continuam estacionados em 1968. Ao mesmo tempo em que o retrocesso pairava sobre a USP, a Universidade de Brasília (UnB) dava um exemplo de evolução. Nesta quinta-feira, a Aliança pela Liberdade, única chapa que não era composta por militantes profissionais, alimentados com recursos de partidos políticos, venceu a eleição para o Diretório Central dos Estudantes (DCE). As propostas da nova diretoria passam longe da reforma agrária, da destruição do capitalismo global ou da defesa de Fidel Castro. Suas bandeiras são o aumento da segurança, o incentivo a parcerias com fundações privadas e a melhoria na gestão da burocrática instituição de ensino.

São Paulo - “É lamentável que as reivindicações estudantis na FFLCH estejam limitadas ao interesse político de uma minoria”, observa o historiador Marco Antônio Villa. “Não existe uma luta para uma biblioteca melhor, para uma política de estágios eficiente ou até para ampliar o acesso da população à educação pública de qualidade”. Villa lembra que a USP não é um território à parte e, portanto, deve subordinar-se à Constituição – que proíbe o consumo de drogas. “A ditadura acabou em 1985”, enfatiza o historiador. “Naquela época, o que levava os estudantes a serem contra a presença da polícia não existe mais. Nos últimos anos, a USP passou por sérios incidentes envolvendo assaltos e mortes. Não há um motivo coerente para se opor a mais segurança”.


O sociólogo Demétrio Magnoli evoca outro tópico das reivindicações: a exigência de eleições diretas para a reitoria da Universidade. “Nas décadas de 1960 e 1970 isso fazia sentido porque havia a necessidade de preservar a instituição de ensino como um território da liberdade de expressão”, afirma Magnoli. “Hoje não faz. A universidade é um patrimônio de toda a nação e, por isso, o representante dessa instituição pode ser escolhido por quem essa sociedade livre elegeu para representa-la”. O sociólogo estende o raciocínio à polêmica presença de policiais militares no campus. “Numa ditadura, é correto querer manter a polícia longe, porque ela é o braço armado de um governo ilegítimo”, diz. “Qual o argumento para fazer o mesmo em uma democracia?”.

Depois de ponderar que qualquer forma de violência, tanto policial, quanto estudantil, deve ser punida de acordo com a lei, o antropólogo Paulo Roberto Storani, ex-capitão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) do Rio de Janeiro, lamenta: “Nunca a juventude esteve tão silenciosa”. Para Storani, é inquietante que, no momento em que decidem falar, alguns estudantes o façam para pedir a liberação do uso de uma droga. “Se quiserem lutar pela legalização da maconha, ótimo, mas que o façam pelos meios legais”, diz. “A corrupção foi institucionalizada e eles permanecem calados a esse respeito. Fazendo uma comparação superficial entre a direita e a esquerda no poder, fato que vivenciamos nas últimas décadas, fica evidente que a esquerda é muito mais capaz. Ela conseguiu silenciar os movimentos sociais com dinheiro e cargos públicos. A direita tentou isso com bombas e repressão e jamais conseguiu”.

O tumulto - O tumulto na USP depois que três estudantes que fumavam maconha perto da faculdade de História da USP foram abordados por policiais militares no início da noite desta quinta-feira – desde o assassinato do aluno Felipe Ramos de Paiva, em setembro deste ano, o Conselho Gestor da Universidade firmou um convênio com a PM que permite a entrada da polícia no campus. Quando os policiais ameaçaram conduzir os alunos para a delegacia, colegas dos detidos tentaram impedir que eles entrassem na viatura. Então teve início a baderna.

O balanço da pancadaria: três PMs feridos, dois dos quais atingidos por pedras, e seis viaturas depredadas. A polícia usou cassetetes, gás lacrimogêneo e spray de pimenta para dispersar os manifestantes. Testemunhas garantem que os alunos pilhados com entorpecentes não ofereceram resistência. Os policiais confirmam. “A polícia só disparou gás depois que os estudantes jogaram um cavalete no carro da PM”, afirmou o tenente José Ricardo Caresi. “Os alunos detidos toparam sair do campus com a PM, mas os colegas não deixaram”. Os três alunos acabaram levados para o 91º DP, na Vila Leopoldina, no carro da diretora da Faculdade de História, Sandra Nitrine, que tentou insistentemente evitar o tumulto. “O pessoal foi para cima da PM”, atestou um aluno de História.

Depois da saída dos policiais, cerca de 300 estudantes organizaram um protesto em que exigiram a renúncia do reitor Grandino Rodas, a retirada da PM do campus e a dissolução do Diretório Central dos Estudantes, acusado de conivência com a polícia. Até a noite desta sexta-feira, os alunos permaneciam acampados no prédio da administração da FFLCH.

Em nota, a reitoria da USP lamentou “os incidentes ocorridos no dia 27 de outubro”. Também garantiu que os fatos serão analisados pelo Conselho Gestor, “para a apresentação de propostas para o equacionamento da situação, e que serão divulgadas em data oportuna". É cedo saber se prevalecerão os gritos que clamam pelo cumprimento da lei.



Carta Capital
29/11/2011


PM e estudantes em confronto

Uma batida policial e a autuação de alguns estudantes por consumo e porte de maconha na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH) consolidaram o estopim de um movimento contra a Polícia Militar no campus universitário na quinta-feira 27.

Desde o início de setembro,  a PM instaurou rondas permanentes no local, depois que o reitor Grandino Rodas assinou um convênio com a coorporação, liberando sua instalação dentro do campus.

Três estudantes foram detidos por policiais ao serem flagrados fumando e portando maconha. Outros alunos se uniram em torno do episódio na tentativa de impedir que os três fossem levados à delegacia. Segundo o movimento que se formou depois do ocorrido, cerca de 500 alunos cercaram os policiais e estudantes para impedir sua prisão. A PM chamou mais 15 viaturas ao local. Em meio à confusão, Sandra Nitrine, diretora da Faculdade de História interviu e, em reunião com os autuados e advogados, resolveu o impasse jurídico.

Pessoas que estavam no local relataram que, quando policiais deixavam o local com os três alunos rumo à delegacia, um grupo de estudantes cercou as viaturas, jogando pedras e outros objetos. A polícia reagiu violentamente, com bombas de gás lacrimogênio, cassetete, balas de borracha e bombas de efeito moral. Assim que o tumulto se dispersou, foi convocada uma Assembleia, que decidiu ocupar a diretoria da faculdade de História. Os três estudantes flagrados assinaram um  termo circunstanciado e foram liberados depois de negociações.

Por meio de nota, os alunos que ocupam o local afirmaram que seguirão ocupados até que o convênio entre USP e PM seja revogado pela reitoria, de forma a proibir a entrada da Polícia Militar no Campus em qualquer circunstância.

A aprovação do convênio que intensificou a presença da Polícia Militar no Campus ocorreu logo após o assassinato de Felipe Ramo Paiva, estudante de Ciência Atuariais, vítima de latrocínio em maio deste ano. A decisão, no entanto, gerou descontentamento entre os alunos, sobretudo devido ao histórico de repressão a movimentos estudantis por parte da PM na USP. O mais recente ocorreu em 2009, quando o choque dispersou violentamente uma manifestação de alunos e funcionários. “A situação é complexa. O territorio da USP não é diferente do resto da sociedade, vimos o homicídio que aconteceu, tem havido ocorrências. Não se pode achar que as leis da sociedade não se aplicam lá”, diz Sérgio Adorno, sociólogo e coordenador do Núcleo de Estudo da Violência da USP.

A presença constante de patrulhas e blitzes nas últimas semanas contribuiu para uma crescente tensão entre PM e estudantes. Alguns alunos comentam que se sentem incomodados com abordagens policiais em seu local de estudo ou trabalho.

“Eu estou preocupado com o fato de que nós como educadores estamos falhando em nossa tarefa. Não estamos conseguindo coibir ação da polícia na USP e nem conversar com alunos para ter planos de ação para que possamos minimizar esse tipo de confronto na nossa comunidade”, afirma Adorno, que é também docente da FFLCH. “Temos que conversar com nossa comunidade para enfrentar problemas, como o uso de drogas e bebidas”. Para ele, ao mesmo tempo que criminalizar e reprimir não é solução, não se pode ignorar que existem ocorrências criminais no campus.

O Diretório Central dos Estudantes da USP (DCE) divulgou, por meio de nota, que apoia o movimento de ocupação e se colocou contra a PM no Campus e os processor administrativos aos ativistas.


Estadão
Adriana Ferraz, Carlos Lordelo e Marcelo Godoy

SÃO PAULO - Alunos e sindicalistas que depredaram seis viaturas das Polícia Civil e Militar anteontem na Universidade de São Paulo (USP) serão indiciados por dano ao patrimônio público e podem pegar até 3 anos de prisão. A decisão foi tomada ontem pelo delegado Dejair Rodrigues, titular da 3.ª Delegacia Seccional, responsável pelas delegacias da zona oeste de São Paulo.
"Vamos identificar todo mundo. É inadmissível o que ocorreu", afirmou. Um inquérito será aberto na segunda-feira pelo 93.º DP (Jaguaré). "Isso foi um ato cometido por uma minoria. A grande maioria dos estudantes não concorda com o que houve." Rodrigues disse que já recolheu vídeos, fotos e vai convocar testemunhas.
Enquanto a polícia decidia ir atrás dos responsáveis pelas cenas de guerrilha no câmpus do Butantã da USP, os estudantes rebelados desfilavam com seus rostos cobertos por camisetas e erguiam três barricadas em torno do prédio da administração da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). Eles também queimaram uma bandeira do Estado de São Paulo e outra do Brasil e estenderam cartazes e faixas nas paredes do edifício ocupado. Diziam que a "repressão" serviria para "impor privatização" da universidade e alertavam que "TV, álcool, açúcar, tabaco, esporte e sexo" também são drogas.
As faixas ainda faziam críticas ao reitor João Grandino Rodas, à Polícia Militar e à imprensa. Durante a tarde, os alunos entravam e saíam do prédio sem serem importunados pelos seguranças particulares da USP. Não havia sinal da polícia nas proximidades. Perto dali, era ainda possível ver sinais da batalha de anteontem: pedras, pedaços de pau e placas de madeira.
Muitos dos estudantes chegavam ao prédio de banho tomado e com mochilas nas costas, preparando-se para passar o fim de semana no prédio. Em um manifesto divulgado na manhã de ontem, os acampados afirmaram que ficarão ali até que "se retirem todos os processos criminais e administrativos contra estudantes, professores e funcionários" e se revogue o convênio com a PM, que permitiu a instalação de postos policiais na USP.
Sem confronto. O comandante-geral da PM, Álvaro Camilo, afirmou que orientou seus homens a evitar o confronto com os alunos na quinta-feira e pediu que eles se limitassem a cumprir a detenção dos três alunos apanhados com maconha. Camilo espera que o fim de semana acalme os ânimos e se disse aberto ao diálogo.

De olho na eleição de 2012, Veja que colar no Ministro o preconceito antinordestino

Colunista da Veja acerta quando recupera o relatório da CGU sobre fragilidades do INEP, mas faz contorcionismo para vincular o Ministro da Educação ao preconceito antinordestino, pois é falso afirmar que o Ministro culpou os cearenses. Além disto, a turba preconceituosa que infesta as redes sociais é movida pela própria estupidez. Na verdade o colunista levanta um mote para ser usado na campanha de 2010. 


Veja on line
28/10/2011

Por Reinaldo Azevedo



ânsia de se livrar das próprias responsabilidades, Fernando Haddad, ministro da Educação, está ajudando a demonizar estudantes e professores do Ceará. Daí a estimular nas redes sociais uma corrente de preconceitos vários, vai um passo. Mais uma vez se prova que, para se defender, petistas pegam carona nem que seja nos mais baixos valores. Se algum professor do colégio Christus ou de qualquer outra escola vazou questões do Enem de forma deliberada, tem de ser punido por isso, é claro! E não serei eu a advogar a impunidade para ninguém. Mas vamos devagar! A culpa é de FERNANDO HADDAD! Os cearenses não têm nada com isso.


A Justiça vai decidir. Modestamente, sugiro ao juiz Luís Praxedes Vieira da Silva que leia este meu post. Deixo evidente, recorrendo a uma reportagem da VEJA Online a outra do Estadão, que o vazamento da prova era pule de dez! Estava escrito nas estrelas! A Controladoria Geral da República apontava, meritíssimo, com todas as letras, que os pré-testes eram realizados sem as condições mínimas de segurança. Ora, quem não oferece segurança aposta no vazamento.

Ainda que os responsáveis por essa ou por aquela práticas delituosas devam ser punidos, nada elimina o caráter estruturalmente falho, defeituoso, do processo, gerido por empresas, note-se, escolhidas a dedo, sem licitação, com suposta “notória especialização”. Publicadas as reportagens, inclusive com a manifestação explícita de um órgão federal, o MEC nada fez.

O juiz Vieira da Silva, titular da 1ªVara da Justiça Federal no Ceará, deu um prazo até às 12h46 da próxima segunda para que o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) se manifeste sobre o pedido de anulação total do Enem, feito pelo procurador da República Oscar da Costa Filho, do Ministério Público Federal (MPF) do Ceará.

Na quinta, Costa Filho ajuizou uma ação exigindo que as provas dos mais de 4 milhões de candidatos sejam anuladas. Ele entrou com a ação depois que o MEC decidiu que anularia somente os exames dos 639 alunos do Christus, que comprovadamente tiveram acesso prévio a 14 questões. De modo correto, creio, o procurador entende que a decisão é inconstitucional.

Numa entrevista escandalosa ao Estadão, publicada nesta quinta, depois de satanizar professores do Ceará, Haddad sugere ser impossível conciliar sigilo com democracia.
Ao tomar a sua decisão, pois, o juiz não estará julgando apenas esse caso. Haddad quer que a Justiça endosse o seu espetacular ponto de vista. Se não anular as provas, Vieira da Silva estará absolvendo futuros vazamentos.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O Enem, a Constituição Federal e o Articulista da Veja que pensa que é juiz.

Articulista da Veja posa de juiz mas é traído pelo próprio texto: a anulação do Enem deve ser decidida pela justiça e não pela Veja.


VEJA
26/10/2010
Reinaldo Azevedo
20:41

 

Dilma precisa decidir se manda cumprir a Constituição ou se a joga no lixo por causa de eleição em São Paulo

Fernando Haddad é o candidato do Babalorixá de Banânia à Prefeitura de São Paulo. Tornou-se também o candidato da cúpula petista. Assim, Lula quer Haddad fora do ministério para concorrer à Prefeitura; Dilma o quer fora do ministério porque não vai com a cara dele. Ele só está no cargo porque ela atendeu a um pedido do Apedeuta. Um outro pedido foi em favor de Orlando Silva…

A turma de Haddad joga pesado. A senadora Marta Suplicy (PT-SP), que nunca chegou a ser um anjo de delicadeza, está conhecendo o jogo bruto de seu adversário interno. As franjas “haddadianas” da imprensa (deveria eu dizer “haddadeiras”???) a chamam, no mínimo, de velha e ultrapassada, com o beneplácito dos “haddadeiros” — ainda não sei como definir o alegre coro de moças e moços que adeririam à causa…

Caso o Enem tenha de ser refeito — e, entendo, essa é uma questão que tem de ser decidida pela Justiça caso a presidente Dilma não faça a coisa certa —, é evidente que isso pesará contra a postulação de Haddad. Será mais um passivo na sua ficha. As suas trapalhadas no Enem já custaram uma fortuna aos cofres públicos. Sabem qual foi o custo anunciado do Enem neste ano? R$ 372,5 milhões! Contra R$ 128,5 milhões no ano passado! É uma fábula! Mas isso tudo não conseguiu impedir, mais uma vez, o vazamento.

Assim, por causa da disputa eleitoral em São Paulo, a presidente pode decidir jogar a Constituição no lixo.

 às 19:52 

OU O ENEM É CANCELADO, OU A CONSTITUIÇÃO ESTARÁ SENDO JOGADA NO LIXO!

 É claro que é uma atrapalhação na vida dos estudantes! É claro que é ruim para todo mundo! É claro que é o fim da picada! Mas ou o exame do Enem é cancelado — EM TODO O TERRITÓRIO NACIONAL —, ou se estará jogando no lixo a Constituição da República Federativa do Brasil. Não há conciliação possível.

É, meus queridos! Um incompetente arrogante como Fernando Haddad não exerce um cargo tão importante na República sem que milhões paguem o pato por sua incompetência. É a terceira jornada seguida do Enem a dar problema. Desta feita, o ministro se mostra mais cínico do que das outras — foi a única coisa que nele evoluiu: o cinismo. Diante da comprovação de que uma escola do Ceará teve acesso prévio a questões do exame, ele emite uma nota e sustenta: “Não houve vazamento”. É estupefaciente!
  
É isso e não só isso. Trata-se de uma questão de princípio. Se houve o vazamento para um colégio, descobriu-se que o sistema apresentou falha e que, por ela, muito mais gente pode ter tido acesso às provas. Se o exame é mantido, a Constituição vai pro lixo. Não é só isso, não! As universidades que hoje usam o Enem como mecanismo de seleção ou que empregam o desempenho dos alunos nessa prova como um dos critérios de pontuação estarão, também elas, se expondo à fraude.

Sim, dá uma trabalheira, inferniza a vida de um monte de gente, é caro. Mas não há outro modo de se cumprir a Constituição a não ser cancelar a prova. É o “Custo Incompetência!”

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Denuncismo não é jornalismo investigativo

Jornalista questiona os métodos de Veja
Observatório da Imprensa
25/10/2011
Derrubar ministros exige competência
Por Alberto Dines
Balística e jornalismo investigativo têm algo em comum: independente do calibre da arma e da força do projétil, é crucial avaliar o ângulo do disparo e a vulnerabilidade do alvo.
As denúncias da Veja contra o ministro do Esporte, Orlando Silva, publicadas no fim de semana 15-16 de outubro (edição 2239) devem demorar a derrubá-lo ou talvez nem o derrubem. Foram formuladas canhestramente. São ineficazes.
Para começar: o denunciante é réu. Portanto, suspeito. Tem ficha de truculento, negocista, policial-bandido, miliciano típico. Esteve envolvido no mesmo esquema que agora tenta demolir. Faz parte do mesmo bando que agora está sendo investigado. O desvio de verbas do ministério para ONGs que promovem o esporte assistencial já estava sendo investigado há mais de dois anos pelas polícias de Brasília e Federal, pela CGU e pelo Ministério Público.
O fato novo, bombástico, é a entrega de dinheiro vivo na mão do ministro ou de seu motorista. E esta tremenda novidade não colou porque carece de provas. Veja embarcou em nova aventura denuncista sem ter qualquer comprovante. Saiu atirando.

Fora dos holofotes
Na ânsia de ganhar o campeonato nacional de tiro-aos-ministros, o semanário fez escolhas estratégicas erradas. Quando a Folha de S.Paulo atirou em Antonio Palocci, mirou apenas em seu incrível e vertiginoso enriquecimento. Não pensou no PT nem em alvos próximos. Apontou, atirou, acertou na mosca, Palocci estrebuchou um bocadinho e emborcou.
O frenesi ideológico dos atiradores de Veja leva-os a optar pela rajada e esta nem sempre é mais letal do que o tiro único, certeiro. Queriam pegar o ministro e também o seu partido, fazer o trabalho completo. Não pegaram nem um nem outro.
O PCdoB, tal como uma porção significativa da base aliada, está envolvido em bandalheiras. Sua imagem de estoicismo e idealismo há muito evaporou. A vigorosa reação dos familiares das lideranças comunistas históricas em seguida à propaganda televisiva do partido (Anita Leocádia Prestes e Victoria Grabois, por exemplo) é prova de uma indisfarçável degradação.
São consistentes muitas das revelações sobre o que acontece dentro e em torno do Ministério do Esporte não apenas porque já vinham sendo investigadas, mas porque agora passarão a ser monitoradas também pela Procuradoria Geral da República. É da natureza da PGR relutar, não dispersar-se em muitas ações e trabalhar longe dos holofotes. Mas quando anuncia publicamente que vai apurar malfeitorias é porque pressente o que deve encontrar.
Esporte perigoso
A editoria de denúncias do semanário da Editora Abril não levou em conta as chamadas “circunstâncias ambientais”: a destituição do ministro do Esporte quando faltam três anos para o início da Copa do Mundo só poderia ocorrer diante de colossais ilícitos. Comprovados cabalmente. Também não levou em conta que naquele momento o ministro Orlando Silva não poderia ser facilmente sacrificado porque representava uma ala do governo que tenta oferecer resistências ao poderio conjugado dos abutres Fifa-CBF.
Para ser eficaz, o jornalismo de cruzadas deve evitar fúrias, ser preciso. A grande mídia está apostando para ver quem derruba mais ministros até o fim do ano. Trata-se de um esporte radical, cansativo e perigoso. Corre o risco de ficar desacreditado.

domingo, 23 de outubro de 2011

Direito de reposta

O Exercício da arrogância: A Folha leva 13 anos para reparar um erro.


Observatório da Imprensa
21/10/2010
edição 664
Por Luciano Martins Costa
A Folha se retrata

O cidadão chamado Nelson Luiz Conegundes de Souza, professor de Educação Física com especialidade em Fisiologia do Treinamento Esportivo, era professor do Colégio Equipe e técnico de basquetebol da AABB – Associação Atlética Banco do Brasil – em São Paulo, no ano de 1998, quando foi entrevistado pelaFolha de S.Paulo.

O repórter do jornal paulista queria detalhes do projeto de criação da Liga Paulistana de Basquetebol, da qual ele era um dos coordenadores.
No dia seguinte, 19 de março de 1998, ao abrir o jornal, Nelson foi informado de que estava sendo acusado pela Folha de ser o principal mentor de uma liga “pirata” que tinha como objetivo “fisgar clubes”, supondo-se que um dos propósitos era levar alguma vantagem financeira.

Nos dias subsequentes, Nelson foi demitido da AABB e estigmatizado no seu meio profissional, tendo seu nome associado àquilo que os brasileiros conhecem como “picaretagem”.
Passou a ser vítima de chacotas de colegas, evitado pelos amigos e teve sua entrada proibida na sede do clube ao qual havia prestado serviços durante os 13 anos anteriores.
Ele entrou na Justiça com uma ação por reparação de danos, exigindo antes de mais nada a publicação do direito de resposta, no mesmo espaço e com o mesmo destaque dado à reportagem que o havia prejudicado.
Pois bem: nesta quinta-feira, dia 20 de outubro de 2011, treze anos após produzido o dano, a ação judicial que tramitava na 29ª Vara Cível do Fórum João Mendes foi finalmente julgada e executada.
A Folha de S.Paulo foi condenada a ceder a ele o espaço para que se defendesse da acusação.

Nem precisava, porque nesse período a tal liga que a Folha considerou “pirata” não apenas se consolidou como uma entidade representativa do esporte em São Paulo como se tornou atuante na capital paulista e região metropolitana, no Vale do Paraiba, Baixada Santista e algumas cidades do interior do estado.
Como sua área de atuação foi ampliada, acabou mudando o nome, de Liga Paulistana para Liga Paulista de Basquetebol, e está filiada à Federação Paulista de Basquetebol.
De tudo isso os leitores da Folha puderam tomar conhecimento apenas porque a decisão judicial mandou que o jornal publicasse a defesa de Nelson Luiz Conegundes de Souza.
Em todo esse tempo, a Folha nunca se preocupou em corrigir o erro por sua própria iniciativa, ou sequer verificar se o teor daquela reportagem de março de 1998 estava correta.
Para obter o direito de ver sua versão publicada, o cidadão teve que levar seus recursos à última instância da Justiça, o Supremo Tribunal Federal.
Arrogância e má-fé
Mais do que qualquer manifesto da Associação Nacional de Jornais, o pequeno texto publicado nesta quinta-feira no caderno de Esporte da Folha de S.Paulo diz muito sobre a necessidade ou a conveniência de alguma regulamentação da imprensa.
O caso é uma comprovação bizarra de que, se depender de sua própria vontade, a imprensa brasileira não haverá de reconhecer o mais comezinho direito do cidadão que se sente ou é efetivamente prejudicado pela atividade jornalística.
Se depender do Judiciário, o cidadão pode até ver atendida sua queixa, mas terá que esperar por mais de uma década para isso.
O que se pode ler sobre o assunto, além do texto que a Justiça obrigou a Folha a publicar, é apenas meia dúzia de reproduções em blogs e alguns registros de sites de monitores jurídicos.
Este observador não teve condições de constatar se a retratação foi feita espontaneamente pela Folhaantes da publicação da sentença definitiva e o jornal, aparentemente, não tem interesse em esclarecer isso aos seus leitores.
Há alguma controvérsia entre juristas sobre a hipótese de a publicação espontânea da retratação, em lugar do direito de resposta, impediria ou dificultaria ao queixoso obter indenização por danos morais e materiais.
Se for esse o caso, era de se questionar o valor moral de tal atitude, principalmente levando-se em conta que quem defende o jornal é a advogada Taís Gasparian, que tem sido também porta-voz do movimento contra qualquer proposta de normatização da imprensa.
Não se há de levantar aqui a bandeira do controle da atividade jornalística ou de mesmo remotamente defender qualquer proposta que cheire a censura.
No entanto, o cidadão Nelson Luiz Conegundes de Souza bem merecia da Folha de S.Paulo mais do que o acanhado texto que lhe foi concedido. Afinal, os fatos demonstram que a reportagem maliciosa de 1998 estava errada e apenas a má-fé e a arrogância podem explicar o uso de todos os recursos judiciais, até a Suprema Corte, para tentar evitar esse ato de Justiça.