sábado, 29 de outubro de 2011

Comparar é preciso

Leiam abaixo as matérias da Veja, do Estadão e da Carta Capital a respeito da ocorrência policial na USP. A primeira faz alguma coisa que não podemos chamar de jornalismo.


Veja
29/10/2011


Os tumultos causados pelos rebeldes sem causa da USP

“Os policiais não são trabaliadores, são o braço armado$ dos exploradores”. A foto do cartaz com erros de português – ao lado de rapazes com o tronco à mostra e os rostos cobertos por camisetas – poderia ter sido tirada em alguma rebelião da Febem. Não foi. Quem aparece nas imagens são estudantes da Universidade de São Paulo (USP), uma das 100 melhores instituições de ensino superior do mundo.

As cenas de fúria do bando de jovens se atracando com policiais militares e os gritos de “fora a imprensa golpista” berrados da janela do prédio transformado em bunker da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), poderiam ter sido pinçadas de um documentário sobre as manifestações estudantis contra a ditadura militar. Não foram – embora os manifestantes pareçam decididos a acreditar que continuam estacionados em 1968. Ao mesmo tempo em que o retrocesso pairava sobre a USP, a Universidade de Brasília (UnB) dava um exemplo de evolução. Nesta quinta-feira, a Aliança pela Liberdade, única chapa que não era composta por militantes profissionais, alimentados com recursos de partidos políticos, venceu a eleição para o Diretório Central dos Estudantes (DCE). As propostas da nova diretoria passam longe da reforma agrária, da destruição do capitalismo global ou da defesa de Fidel Castro. Suas bandeiras são o aumento da segurança, o incentivo a parcerias com fundações privadas e a melhoria na gestão da burocrática instituição de ensino.


As cenas de fúria do bando de jovens se atracando com policiais militares e os gritos de “fora a imprensa golpista” berrados da janela do prédio transformado em bunker da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), poderiam ter sido pinçadas de um documentário sobre as manifestações estudantis contra a ditadura militar. Não foram – embora os manifestantes pareçam decididos a acreditar que continuam estacionados em 1968. Ao mesmo tempo em que o retrocesso pairava sobre a USP, a Universidade de Brasília (UnB) dava um exemplo de evolução. Nesta quinta-feira, a Aliança pela Liberdade, única chapa que não era composta por militantes profissionais, alimentados com recursos de partidos políticos, venceu a eleição para o Diretório Central dos Estudantes (DCE). As propostas da nova diretoria passam longe da reforma agrária, da destruição do capitalismo global ou da defesa de Fidel Castro. Suas bandeiras são o aumento da segurança, o incentivo a parcerias com fundações privadas e a melhoria na gestão da burocrática instituição de ensino.

São Paulo - “É lamentável que as reivindicações estudantis na FFLCH estejam limitadas ao interesse político de uma minoria”, observa o historiador Marco Antônio Villa. “Não existe uma luta para uma biblioteca melhor, para uma política de estágios eficiente ou até para ampliar o acesso da população à educação pública de qualidade”. Villa lembra que a USP não é um território à parte e, portanto, deve subordinar-se à Constituição – que proíbe o consumo de drogas. “A ditadura acabou em 1985”, enfatiza o historiador. “Naquela época, o que levava os estudantes a serem contra a presença da polícia não existe mais. Nos últimos anos, a USP passou por sérios incidentes envolvendo assaltos e mortes. Não há um motivo coerente para se opor a mais segurança”.


O sociólogo Demétrio Magnoli evoca outro tópico das reivindicações: a exigência de eleições diretas para a reitoria da Universidade. “Nas décadas de 1960 e 1970 isso fazia sentido porque havia a necessidade de preservar a instituição de ensino como um território da liberdade de expressão”, afirma Magnoli. “Hoje não faz. A universidade é um patrimônio de toda a nação e, por isso, o representante dessa instituição pode ser escolhido por quem essa sociedade livre elegeu para representa-la”. O sociólogo estende o raciocínio à polêmica presença de policiais militares no campus. “Numa ditadura, é correto querer manter a polícia longe, porque ela é o braço armado de um governo ilegítimo”, diz. “Qual o argumento para fazer o mesmo em uma democracia?”.

Depois de ponderar que qualquer forma de violência, tanto policial, quanto estudantil, deve ser punida de acordo com a lei, o antropólogo Paulo Roberto Storani, ex-capitão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) do Rio de Janeiro, lamenta: “Nunca a juventude esteve tão silenciosa”. Para Storani, é inquietante que, no momento em que decidem falar, alguns estudantes o façam para pedir a liberação do uso de uma droga. “Se quiserem lutar pela legalização da maconha, ótimo, mas que o façam pelos meios legais”, diz. “A corrupção foi institucionalizada e eles permanecem calados a esse respeito. Fazendo uma comparação superficial entre a direita e a esquerda no poder, fato que vivenciamos nas últimas décadas, fica evidente que a esquerda é muito mais capaz. Ela conseguiu silenciar os movimentos sociais com dinheiro e cargos públicos. A direita tentou isso com bombas e repressão e jamais conseguiu”.

O tumulto - O tumulto na USP depois que três estudantes que fumavam maconha perto da faculdade de História da USP foram abordados por policiais militares no início da noite desta quinta-feira – desde o assassinato do aluno Felipe Ramos de Paiva, em setembro deste ano, o Conselho Gestor da Universidade firmou um convênio com a PM que permite a entrada da polícia no campus. Quando os policiais ameaçaram conduzir os alunos para a delegacia, colegas dos detidos tentaram impedir que eles entrassem na viatura. Então teve início a baderna.

O balanço da pancadaria: três PMs feridos, dois dos quais atingidos por pedras, e seis viaturas depredadas. A polícia usou cassetetes, gás lacrimogêneo e spray de pimenta para dispersar os manifestantes. Testemunhas garantem que os alunos pilhados com entorpecentes não ofereceram resistência. Os policiais confirmam. “A polícia só disparou gás depois que os estudantes jogaram um cavalete no carro da PM”, afirmou o tenente José Ricardo Caresi. “Os alunos detidos toparam sair do campus com a PM, mas os colegas não deixaram”. Os três alunos acabaram levados para o 91º DP, na Vila Leopoldina, no carro da diretora da Faculdade de História, Sandra Nitrine, que tentou insistentemente evitar o tumulto. “O pessoal foi para cima da PM”, atestou um aluno de História.

Depois da saída dos policiais, cerca de 300 estudantes organizaram um protesto em que exigiram a renúncia do reitor Grandino Rodas, a retirada da PM do campus e a dissolução do Diretório Central dos Estudantes, acusado de conivência com a polícia. Até a noite desta sexta-feira, os alunos permaneciam acampados no prédio da administração da FFLCH.

Em nota, a reitoria da USP lamentou “os incidentes ocorridos no dia 27 de outubro”. Também garantiu que os fatos serão analisados pelo Conselho Gestor, “para a apresentação de propostas para o equacionamento da situação, e que serão divulgadas em data oportuna". É cedo saber se prevalecerão os gritos que clamam pelo cumprimento da lei.



Carta Capital
29/11/2011


PM e estudantes em confronto

Uma batida policial e a autuação de alguns estudantes por consumo e porte de maconha na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH) consolidaram o estopim de um movimento contra a Polícia Militar no campus universitário na quinta-feira 27.

Desde o início de setembro,  a PM instaurou rondas permanentes no local, depois que o reitor Grandino Rodas assinou um convênio com a coorporação, liberando sua instalação dentro do campus.

Três estudantes foram detidos por policiais ao serem flagrados fumando e portando maconha. Outros alunos se uniram em torno do episódio na tentativa de impedir que os três fossem levados à delegacia. Segundo o movimento que se formou depois do ocorrido, cerca de 500 alunos cercaram os policiais e estudantes para impedir sua prisão. A PM chamou mais 15 viaturas ao local. Em meio à confusão, Sandra Nitrine, diretora da Faculdade de História interviu e, em reunião com os autuados e advogados, resolveu o impasse jurídico.

Pessoas que estavam no local relataram que, quando policiais deixavam o local com os três alunos rumo à delegacia, um grupo de estudantes cercou as viaturas, jogando pedras e outros objetos. A polícia reagiu violentamente, com bombas de gás lacrimogênio, cassetete, balas de borracha e bombas de efeito moral. Assim que o tumulto se dispersou, foi convocada uma Assembleia, que decidiu ocupar a diretoria da faculdade de História. Os três estudantes flagrados assinaram um  termo circunstanciado e foram liberados depois de negociações.

Por meio de nota, os alunos que ocupam o local afirmaram que seguirão ocupados até que o convênio entre USP e PM seja revogado pela reitoria, de forma a proibir a entrada da Polícia Militar no Campus em qualquer circunstância.

A aprovação do convênio que intensificou a presença da Polícia Militar no Campus ocorreu logo após o assassinato de Felipe Ramo Paiva, estudante de Ciência Atuariais, vítima de latrocínio em maio deste ano. A decisão, no entanto, gerou descontentamento entre os alunos, sobretudo devido ao histórico de repressão a movimentos estudantis por parte da PM na USP. O mais recente ocorreu em 2009, quando o choque dispersou violentamente uma manifestação de alunos e funcionários. “A situação é complexa. O territorio da USP não é diferente do resto da sociedade, vimos o homicídio que aconteceu, tem havido ocorrências. Não se pode achar que as leis da sociedade não se aplicam lá”, diz Sérgio Adorno, sociólogo e coordenador do Núcleo de Estudo da Violência da USP.

A presença constante de patrulhas e blitzes nas últimas semanas contribuiu para uma crescente tensão entre PM e estudantes. Alguns alunos comentam que se sentem incomodados com abordagens policiais em seu local de estudo ou trabalho.

“Eu estou preocupado com o fato de que nós como educadores estamos falhando em nossa tarefa. Não estamos conseguindo coibir ação da polícia na USP e nem conversar com alunos para ter planos de ação para que possamos minimizar esse tipo de confronto na nossa comunidade”, afirma Adorno, que é também docente da FFLCH. “Temos que conversar com nossa comunidade para enfrentar problemas, como o uso de drogas e bebidas”. Para ele, ao mesmo tempo que criminalizar e reprimir não é solução, não se pode ignorar que existem ocorrências criminais no campus.

O Diretório Central dos Estudantes da USP (DCE) divulgou, por meio de nota, que apoia o movimento de ocupação e se colocou contra a PM no Campus e os processor administrativos aos ativistas.


Estadão
Adriana Ferraz, Carlos Lordelo e Marcelo Godoy

SÃO PAULO - Alunos e sindicalistas que depredaram seis viaturas das Polícia Civil e Militar anteontem na Universidade de São Paulo (USP) serão indiciados por dano ao patrimônio público e podem pegar até 3 anos de prisão. A decisão foi tomada ontem pelo delegado Dejair Rodrigues, titular da 3.ª Delegacia Seccional, responsável pelas delegacias da zona oeste de São Paulo.
"Vamos identificar todo mundo. É inadmissível o que ocorreu", afirmou. Um inquérito será aberto na segunda-feira pelo 93.º DP (Jaguaré). "Isso foi um ato cometido por uma minoria. A grande maioria dos estudantes não concorda com o que houve." Rodrigues disse que já recolheu vídeos, fotos e vai convocar testemunhas.
Enquanto a polícia decidia ir atrás dos responsáveis pelas cenas de guerrilha no câmpus do Butantã da USP, os estudantes rebelados desfilavam com seus rostos cobertos por camisetas e erguiam três barricadas em torno do prédio da administração da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). Eles também queimaram uma bandeira do Estado de São Paulo e outra do Brasil e estenderam cartazes e faixas nas paredes do edifício ocupado. Diziam que a "repressão" serviria para "impor privatização" da universidade e alertavam que "TV, álcool, açúcar, tabaco, esporte e sexo" também são drogas.
As faixas ainda faziam críticas ao reitor João Grandino Rodas, à Polícia Militar e à imprensa. Durante a tarde, os alunos entravam e saíam do prédio sem serem importunados pelos seguranças particulares da USP. Não havia sinal da polícia nas proximidades. Perto dali, era ainda possível ver sinais da batalha de anteontem: pedras, pedaços de pau e placas de madeira.
Muitos dos estudantes chegavam ao prédio de banho tomado e com mochilas nas costas, preparando-se para passar o fim de semana no prédio. Em um manifesto divulgado na manhã de ontem, os acampados afirmaram que ficarão ali até que "se retirem todos os processos criminais e administrativos contra estudantes, professores e funcionários" e se revogue o convênio com a PM, que permitiu a instalação de postos policiais na USP.
Sem confronto. O comandante-geral da PM, Álvaro Camilo, afirmou que orientou seus homens a evitar o confronto com os alunos na quinta-feira e pediu que eles se limitassem a cumprir a detenção dos três alunos apanhados com maconha. Camilo espera que o fim de semana acalme os ânimos e se disse aberto ao diálogo.

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