sábado, 8 de outubro de 2011

Como se constrói polêmicas instantâneas. Ou o que fica no final?

Sites jornalísticos se esmeram no exercício de fabricar bobagens com a contribuição da assessoria de comunicação da Secretaria de Política para as Mulheres (SPM). O que fica no final?


Folha on line
06/10/2011


Após pedir para tirar do ar um comercial de lingerie com a modelo Gisele Bündchen por considerar a peça agressiva à mulher, a Secretaria de Políticas para Mulheres agora enviou um ofício à Globo demonstrando preocupação em relação a novela "Fina Estampa".


A secretaria está preocupada com o personagem Baltazar --interpretado por Alexandre Nero-- que, na trama, humilha e bate na mulher Celeste, vivida por Dira Paes.

Em ofício, a ministra Iriny Lopes sugere que Celeste procure a Rede de
Atendimento à Mulher, por meio do telefone 180. Ela sugere ainda que, diferentemente de casos anteriores, em que o agressor é apenas punido, que Baltazar seja encaminhado aos centros de reabilitação previstos na Lei Maria da Penha.

A Globo informou que não houve contato da ministra e que a novela é uma obra de ficção. Disse ainda que as novelas da emissora "dão tratamento educativo no enfoque de problemas da realidade --respeitada a liberdade de expressão artística".


Terra On line
07/10/2011


De acordo com a colunista Regina Rito, do jornal O Dia, a novela Fina Estampa provocou a ira de Iriny Lopes, ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres. Ela enviou um ofício à TV Globo pedindo a punição do personagem Baltazar (Alexandre Nero), por causa das constantes agressões à sua mulher, Celeste (Dira Paes).


Aguinaldo Silva, autor da trama, esbravejou em seu Twitter: "Ira-ny, a insaciável, agora quer ser co-roteirista de Fina Estampa". A emissora divulgou a resposta oficial enviada à ministra: "tomo a liberdade de não antecipar desdobramentos para não frustrar os telespectadores. Mas, com certeza, a ficção e a liberdade de expressão estarão em consonância com que se espera", disse Luis Erlanger, diretor da emissora. A cena da prisão do personagem está prevista para ser exibida em três semanas.


Veja on line

06/10/2011

Adriana Caitano

Aguinaldo Silva reclama da intromissão de ministra

IIriny Lopes pediu formalmente à TV Globo para incluir punição de agressor na trama de Fina Estampa. Autor diz que cena já estava escrita


Depois de tentar tirar do ar a propaganda em que Gisele Bündchen aparece de sutiã e calcinha dando más notícias ao marido e de apoiar os metroviários que querem o fim da famosa dupla Valéria e Janete, do Zorra Total, a ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Iriny Lopes, quer agora decidir os rumos da novela Fina Estampa, da TV Globo. Na quarta, ela enviou um ofício à emissora sugerindo que a personagem Celeste (Dira Paes) denuncie o marido Baltazar (Alexandre Neto) na próxima vez que for agredida por ele.

Sem saber o que o autor Aguinaldo Silva reservava para o futuro dos personagens, Iriny demonstrou preocupação com o fato de Celeste não ter coragem de registrar ocorrência contra Baltazar. No documento, ela indica que a dona de casa vivida por Dira Paes procure o serviço da Rede de Atendimento à Mulher, divulgando a central coordenada por sua pasta. 

Citando a Lei Maria da Penha, que prevê a prisão de homens que agridem mulheres, a ministra ressalta o merchandising social feito pela TV Globo nas novelas. “Acredito que a ficção tenha força para alertar a sociedade contra esse mal que aflige milhares de mulheres, não apenas no Brasil, mas no mundo inteiro”, afirma Iriny. “A secretaria tem com a emissora uma relação bastante cordial e por isso nos sentimos à vontade para encaminhar o ofício, após iniciarmos conversações”.

Reação - Ao ser informado pelo site de VEJA sobre o ofício elaborado por Iriny Lopes, o autor da novela Fina Estampa, Aguinaldo Silva, reagiu com humor. “Mas ela chegou bem atrasada, porque a cena da prisão do Baltazar já está escrita há três semanas”, comentou, aos risos. “A ministra pode ficar tranquila porque, antes do oficio dela chegar, a situação da Lei Maria da Penha já estava contemplada no meu texto”.

Segundo Aguinaldo, o personagem vivido por Alexandre Neto vai “dar uma surra monumental” na mulher e, só aí, vai ser finalmente denunciado por Celeste. “Evidentemente que a gente quer denunciar o problema. Mas a trama tem 180 capítulos, precisa de um processo”, destaca. “Tenho que mostrar que o homem é violento, que a mulher tem medo dele, que pensa nas consequências de uma denúncia e que só reage depois de ultrapassados os limites. Mostramos o problema em todas as etapas e isso faz as pessoas refletirem sobre o assunto”.

O autor preferiu não comentar as intromissões anteriores da ministra, mas não gostou nada dos palpites de Iriny em seu trabalho. “Ela está fazendo o papel dela com uma certa impaciência. Procurar saber o que vai acontecer na novela é uma interferência no trabalho criativo que não lhe cabe”, critica.

Aguinaldo ainda avisa: “Por mais que a ministra esteja apressada, a cena só vai ao ar daqui a três semanas. Ela pode confiar em mim, sou um feminista, até mais do que ela, que só chegou ao front agora”.

Liberdade - Na carta em resposta à ministra, o diretor da Central Globo de Comunicação, Luis Erlanger, foi mais ameno ao afirmar que ela estava em sintonia com a produção global, já que os capítulosnos quais o agressor é punido já haviam sido feitos. Erlanger destaca também que a emissora procura causar reflexão nos telespectadores ao citar ocasiões inspiradas na vida real. "Com certeza a ficção e a liberdade de expressão estarão em consonância com que se espera", disse.

Apesar de evitar criticar a atitude de Iriny, o diretor deixa implícito que os autores são livres para exercer sua criatividade e, portanto, não serão induzidos a modificar as tramas. "Nesta segunda-feira mesmo passamos a divulgar um aviso ao término dos nossos programas de teledramaturgia ressaltando que são obras coletivas de ficção baseadas na livre criação artística sem compromisso com a realidade", ressaltou.

Reincidência - A ministra começou a fazer ingerências em produções televisivas na última semana. A intromissão começou com a propaganda da marca de lingerie Hope em que Gisele põe as curvas à mostra para acalmar os ânimos do marido. “A peça promove o reforço do estereótipo equivocado da mulher como objeto sexual de seu marido e ignora os grandes avanços que temos alcançado para desconstruir práticas e pensamentos sexistas”, reclamava Iriny.

Nesta quarta, ela manifestou apoio ao sindicato dos metroviários de São Paulo, que se irritou com as cenas em que Janete (Thalita Carauta) sofre assédio dentro do metrô e é encorajada pela transexual Valéria (Rodrigo Sant'Anna) a aceitar a investida. "Parabenizamos a iniciativa [dos metroviários] e endossamos a necessidade de ações como esta que visam desconstruir discursos de uma cultura que, até camuflada no humor, perpetua a violência simbólica contra as mulheres", afirmou a ministra. 

Carta Capital
07/10/2011
Gabriel Bonis


Após ser acusada de censura por pedir a suspensão de um comercial de lingerie com a top model Gisele Bünchen, considerado sexista e ofensivo pela Secretaria de Políticas para as Mulheres, a ministra Iriny Lopes, viu-se envolvida em outra polêmica sobre uma suposta interferência do governo na mídia.


Lopes enviou uma sugestão, na quarta-feira 5, à rede de tevê Globo para que a personagem Celeste (Dira Paes) da novela Fina Estampa, agredida pelo marido, procurasse na trama de ficção a Rede de Atendimento à Mulher e a Central de Atendimento à Mulher, ligando para o número 180.

Em entrevista à equipe do site de CartaCapital na tarde de sexta-feira 7, quando visitou a redação da revista, a ministra se defendeu da enxurrada de críticas e disse que a mídia é míope “por achar que o governo não pode fazer sugestões”. “Sugerir não tira pedaço de ninguém.”

“Como a violência doméstica nessa novela inclui, além da esposa, a filha adolescente, decidimos sugerir, a critério da emissora e obviamente do autor, que, para além da punição, se pudesse abordar um aspecto da Lei Maria da Penha, praticamente desconhecido das pessoas: a reabilitação.”

A ministra se refere ao artigo 35 da lei, que estipula a criação de centros de educação e reabilitação para agressores. “Achamos que era uma boa oportunidade para sugerir a elaboração, por exemplo, de um personagem, um juiz, que determine essa medida com base na legislação.”

Ressaltando sua relação de respeito com a emissora carioca, a ministra disse ter conversado com Luis Erlanger, Diretor da Central Globo de Comunicação, na quinta-feira 6, sobre o assunto. “Ele [Erlanger] me disse que estava com muitos capítulos gravados e não poderia assumir o compromisso de fazer [adotar a sugestão] na opinião da emissora, mas é claro que vai depender sobremaneira do autor [Aguinaldo Silva]”, com quem ainda não teve contato, conforme destaca.

A ministra solicitou, porém, que a direção da emissora repassasse o email com a sugestão a Aguinaldo Silva. “Parece que ele não gostou muito”, disse.

Devido à superexposição da Secretaria nos últimos dias, em decorrência do seu posicionamento contra a campanha de lingerie e também da sugestão feita à emissora carioca, a ministra reforçou a importância de não se banalizar o instrumento de protesto. “É preciso analisar cada pedido que recebemos e ver se há consistência, é uma espécie de filtro.”

Na tarde de sexta-feira, a Rede Globo divulgou uma nota sobre o caso. Com a assinatura de Erlanger, o documento aponta que a emissora não enxerga o ofício da ministra como “uma tentativa de coibir a liberdade de expressão, mas sim uma colaboração dentro do espírito de parceria que tem marcado nosso relacionamento.”
Sobre as agressões retratadas na novela, a nota destaca a necessidade de “focar o lado negativo antes de se construir o desenlace” e sugere a abordagem desse caminho em breve. “Na verdade, a sintonia é tamanha que sua sugestão chega quando os capítulos com desenvolvimento dessa trama em ‘Fina Estampa’ já foram produzidos com boa antecedência.”

Sobre um pedido de retirada do ar de um quadro do programa de humor Zorra Total, também da Globo, situado em um vagão de metrô, o site da Secretaria informa não ter tomado nenhuma atitude nesse sentido, apenas apoiado a ação de protesto do Sindicato dos Metroviários de São Paulo.

Um comentário:

  1. Que o comercial de Gisele é ridículo, nem há o que comentar, mas não creio que fosse necessária a intromissão de um ministério. Há coisas bem mais importantes para se discutir nesse terreno.

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