segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Quem precisa de Relações Públicas.

Jornalista se desmancha em elogios ao ex-presidente do Banco Central. Segundo a matéria, Henrique Meirelles é um dos principais nomes da organização dos jogos olímpicos. Embora a própria matéria considere que ele esteja a frente de uma instituição esvaziada.

Correio Braziliense
Paulo de Tarso Lyra
24/09/2011


Henrique de Campos Meirelles nasceu em Anápolis (GO), município que tem um PIB de R$ 6,2 bilhões e é considerado o mais competitivo, rico e desenvolvido do interior do Centro-Oeste Brasileiro. Assim como seu município natal, Meirelles também é alguém que não precisa mais sair de casa movido pela necessidade de ganhar dinheiro: recebe uma considerável aposentadoria do Bank Boston, em que chegou ao posto máximo de presidente mundial. Tem casas no Rio, em Belo Horizonte e em São Paulo. Meirelles, 66 anos, é competitivo, estabelece relações pragmáticas, evitando que vínculos de amizade atrapalhem seus planos futuros. 

Esse homem, que exerceu o mais longo mandato como presidente do Banco Central (oito anos) e que já foi aplaudido de pé em 2008, no auge da crise internacional, na reunião do BIS — o Banco Central dos Bancos Centrais do mundo — agora está indeciso: não sabe se permanece como um dos principais nomes da organização dos Jogos Olímpicos Rio 2016 ou se é seduzido  pelos acenos do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, para ser o gerente da Copa de 2014. 

Na semana retrasada, Meirelles quebrou o protocolo e foi ao encontro da presidente Dilma Rousseff na área de embarque de autoridades do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. A conversa foi rápida, a sós, sem testemunhas. Mas o Correio  apurou o que Dilma pensa sobre o assunto.  Meirelles deve permanecer na Autoridade Pública Olímpica (APO), ainda que a sua participação tenha sido esvaziada — ele representa a União no Conselho  da APO, um colegiado sem estrutura que jamais se reuniu. 


Dilma avalia, contudo, que as Olimpíadas projetam a imagem do país no exterior, um evento muito mais cívico que a Copa do Mundo, que é organizada pela Fifa. Seria ótimo para o Brasil ter alguém, com o prestígio internacional de Meirelles em posto de destaque, passando  imagem de credibilidade. De mais a mais, no caso da Copa, Dilma já escolheu quem exercerá esse papel: Pelé. Emissários da presidente fizeram chegar ao ex-presidente do BC  o conselho para ter cuidado em não cair na lábia do presidente Ricardo Teixeira, que, acossado por denúncias de corrupção, estaria tentando “limpar a própria imagem”.

Personalidade
O dilema, na verdade, reflete dois traços muito explícitos da personalidade de Meirelles. O primeiro deles é o de sempre achar que está sendo subestimado e que as oportunidades que lhe são oferecidas estão aquém de seu preparo. O segundo é a enorme dificuldade de um profissional que desenvolveu carreira brilhante no sistema financeiro internacional, atingindo postos de destaque e reconhecimento sem ter cursado economia, em entender os sinais políticos emitidos por aliados e adversários. 

Meirelles formou-se em engenharia civil pela Escola Politécnica da USP, fez mestrado em Administração na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), cursou o Advanced Management Program (AMP) na Harvard Business School em 1984 e recebeu um título honorário de doutor do Bryant College. Começou sua carreira no BankBoston em 1974 (veja quadro acima) e aposentou-se da instituição em 2002. Nesse momento, os caminhos se multiplicaram à frente dele. Ele deslumbrou-se com a política, filiou-se ao PSDB, elegendo-se o deputado federal mais votado (teve 183 mil votos) de Goiás.

Jamais tomou posse. Querendo passar uma imagem de austeridade para a comunidade financeira internacional, Lula convidou-o para suceder Armínio Fraga como condutor da política monetária. Aceitou e foi um dos principais responsáveis em ajudar o país a enfrentar a quebradeira generalizada de 2008. 

Mais um vez, o êxito profissional ofuscou o raciocínio cartesiano de Meirelles. Ele tinha a certeza de que seria um grande presidente da República. O PTB de Roberto Jefferson ofereceu-lhe a legenda para concorrer ao Planalto em 2010. O PP de Francisco Dornelles (RJ) acenou que seria possível uma aliança. Mas ele não resistiu aos argumentos de Lula, filiou-se ao PMDB para tentar ser vice de Dilma Rousseff. Enredou-se nas armadilhas internas do partido e perdeu a disputa para Michel Temer. “Foi um erro”, admitiu, depois, a pessoas próximas. 

Refeito da decepção, espalhou que gostaria de ser ministro da Casa Civil — Antonio Palocci foi escolhido —, ou ministro da Infraestrutura, pasta que jamais saiu do papel: os Portos estão com o PSB e os aeroportos estão sob comando de Wagner Bittencourt. “Não se preocupem, eu continuarei estressado”, avisou a interlocutores, indicando que seguirá lutando por um cargo de visibilidade.

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